Esteban Volkov aos 95 anos de idade: uma vida em defesa da verdade histórica e do legado de Trotsky

A base do artigo a seguir foi escrito por Oscar Peralta, do México, em 17/03/2021, e teve acréscimos e edição, de responsabilidade dos editores brasileiros de www.marxismo.com.br, com objetivo de apresentar o evento ao público brasileiro que não teve a possibilidade de participar. (Nota dos Editores).


[Source]

No dia 11 de março de 2021, a Casa Museu Leon Trotsky, localizada em Coyoacán, México, celebrou um evento on-line para celebrar o 95o aniversário de Esteban Volkov, neto de Leon Trotsky e defensor durante toda a vida da verdade histórica da vida e da obra do grande revolucionário. Pessoas de todo o mundo acompanharam o evento, que consistiu em três painéis diferentes com a participação de pessoas associadas com Esteban Volkov e o Museu. Companheiros da Corrente Marxista Internacional (CMI) participaram de forma destacada.

Alan Woods (editor de marxist.com) e Serge Goulart (dirigente da Esquerda Marxista/CMI) falaram no primeiro dos três painéis de oradores, enquanto Jorge Martin (editor de América Socialista, em espanhol) e Ubaldo Oropeza (ativista dirigente de nossa organização mexicana, a Izquierda Socialista) atuaram como moderadores do segundo e terceiro painéis, respectivamente.

Na primeira mesa estava prevista, confirmada e divulgada, a participação, desde Havana, do escritor Leonardo Padura, autor do livro “O homem que amava os cachorros”, sobre a vida de Ramon Mercader, o assassino de León Trotsky que morreu em Cuba. Infelizmente, Leonardo Padura não pode participar porque sua vacinação, em Cuba, contra o coronavírus foi marcada exatamente para o dia e horário da mesa em que ele estaria presente. Participou ainda desta primeira mesa Roberto Robaina, do MES, do Brasil.

A comovedora homenagem a Esteban Volkov destacou suas notáveis qualidades humanas; a importância do legado de Trotsky e dos esforços de Volkov para preservá-lo; bem como a necessidade de apoiar o museu como símbolo perdurável deste legado.

Celebrando uma vida de luta

Os oradores aludiram às numerosas tragédias que marcaram os primeiros anos de vida de Esteban Volkov, que nasceu em Yalta, na península da Crimeia, e que viveu brevemente no exílio na Áustria e em Paris, antes que seus avôs conseguissem assegurar sua chegada a Coyoacán, México. A casa em que viveram ele e seus avôs funciona sem interrupção, desde 1990, como o Museu Leon Trotsky.

Volkov perdeu sua mãe, avó, irmã e tio devido à brutal perseguição da burocracia stalinista. A perseguição de Stalin se estendeu às famílias inteiras de seus inimigos. Finalmente chegou ao próprio Trotsky, depois de duas tentativas de assassinato, as quais Volkov vivenciou pessoalmente.

E, no entanto, como assinalou Alan Woods:

“Volkov soube manter um sentido de vida otimista, um tremendo senso de humor – isso é algo realmente admirável, diria eu, em qualquer ser humano – e isso, talvez, tenha uma explicação… Toda a sua vida foi entregue a uma causa e isso é o que mantém uma pessoa sã, o que mantém a moral, a convicção de que há algo maior que eu e maior que minhas preocupações e tragédias pessoais”.

Stalin acreditava que, ao enterrar Trotsky, enterraria a maior ameaça para ele e para a casta burocrática que ele representava. Na pessoa de Trotsky estavam plasmadas as ideias, o método e as tradições genuínas da Revolução Russa, que a burocracia interessada havia distorcido de tal forma que as tornou irreconhecíveis. Mas o que a burocracia não entendeu é o poder destas ideias, que perduram no legado indestrutível da obra de Trotsky.

Falando de Esteban, Alan afirmou que aqui estava “um homem enfrentado ao aparato de assassinato mais temível, mais poderoso da história, a GPU de Stalin. E, não obstante, este homem sozinho foi capaz de fazer algo que ninguém mais poderia ter feito, e é a grande tarefa de defender a verdadeira imagem e as autênticas ideias da Revolução de Outubro e do bolchevismo”.

Serge Goulart explicou que:

Stalin acreditava que tinha cercado Coyoacán, Trotsky e o bolchevismo, do qual era o fio de continuidade. Em escala da história Stalin se enganou redondamente, foi Trotsky que cercou Stalin e o mundo.

Oitenta e um anos depois do assassinato o, então, todo poderoso aparato stalinista internacional e seus chefes no Kremlin, são sinônimos de horrores, de atos bárbaros, genocidas, de traição às revoluções em todos os lugares, sinônimos de colaboração e servilismo frente à burguesia e ao capital. Seus outrora partidos stalinistas contrarrevolucionários estão destruídos e seus restos passados abertamente para o lado do capital.

Trotsky, ao contrário continua temido pela burguesia em escala internacional, seus livros e suas ideias, sua história, seu programa e seu método são cada vez mais procurados e lidos, apreendidos e seguidos”.

A força revolucionária internacional que Stalin acreditava ter esmagado é um elemento político da situação da luta de classes e se reforça a cada dia. O Ato realizado pela Esquerda Marxista, em São Paulo, em 2011, no teatro da PUC-SP, com mais de 1.200 pessoas ouvindo Esteban Volkov homenageando Leon Trotsky foi uma demonstração viva desta força. A atividade de 1º de maio de 2020 realizada pela CMI com audiência de mais de 120 países do mundo é outra demonstração de que o tempo do stalinismo acabou. Assim como vai acabando o tempo dos reformistas e das seitas autoproclamadas e se abre, dialeticamente, então, um futuro revolucionário para toda a Humanidade.

Roberto Robaina falou saudando e homenageando Esteban Volkov, e ressaltou como as ideias do trotskismo se expandem no mundo, também no Brasil, sendo reivindicadas por milhares de militantes.

Após cada uma das intervenções Esteban tomou a palavra para agradecer e comentar o que havia sido dito. E sempre com alegria e recordando fatos, como a sua vinda ao Brasil a convite da Esquerda Marxista, em 2011, e sua visita à Fábrica Ocupada Flaskô, assim como os vários debates de que participou, na ocasião. Esteban enviou uma saudação e sua boa recordação à todos que o receberam e participaram das atividades organizadas pela Esquerda Marxista nas diferentes cidades brasileiras.

É esta grande causa, a de preservar o fio da continuidade histórica, da verdade, desde Marx, Engels, Lenin e Trotsky, até a luta de classes de hoje, apesar de uma atmosfera espessa de mentiras, que permitiu a Esteban Volkov elevar-se acima de suas esmagadoras tragédias pessoais.

A imagem de Volkov pintada pelos diversos oradores revelou um ser humano alegre e de grande humildade, sinceridade e devoção pela defesa da verdade histórica a serviço da causa da revolução socialista internacional. E, como o próprio Volkov assinalou, é somente isto o que pode liberar a humanidade dos intermináveis horrores do capitalismo.

Os oradores relataram anedotas memoráveis de sua amizade e encontros com Volkov ao longo dos anos. A maioria deles com relação ao seu trabalho de preservar a memória histórica de seu avô; mas outros também falaram da notável carreira de Volkov como engenheiro químico, trabalhando na vanguarda do desenvolvimento de pílulas anticonceptivas, e de seu grande talento como fotógrafo. De fato, foi anunciado durante o evento que o laboratório em que trabalhava seria recriado como exposição no próprio museu, e que sua coleção de fotografias também logo será exibida.

Volkov falou diversas vezes para expressar sua alegria e gratidão por todas as mensagens que foram compartilhadas em sua homenagem. Aos 95 anos de idade, mostra uma lucidez e uma energia extraordinárias.

Apoie a Casa Museu Leon Trotsky

Ao longo do evento, os moderadores e participantes ressaltaram o papel de Grabriela Pérez Noriega, organizadora do evento e diretora do museu, a quem Alan Woods e Serge Goulart atribuíram o mérito de salvar o museu através de um trabalho árduo. Também se enfatizou os desafios que o museu atualmente enfrenta, pois desde que a pandemia começou suas portas permaneceram fechadas, cortando suas principais fontes de receitas.

O museu depende de um importante apoio financeiro para sua existência contínua. Como Alan nos lembrou:

A juventude de hoje não tem muitos monumentos. Eis aqui um monumento de primeira ordem de importância; mais que um monumento, é um símbolo, e os símbolos, queridos amigos, são importantes. Os símbolos são importantes para a revolução socialista, e este museu é uma lembrança viva, não morta, do que foram Leon Trotsky e a Revolução de Outubro”.

Para preservar este importante monumento histórico e símbolo da revolução socialista, animamos os simpatizantes a contribuir e a visitar o site do museu, bem como sua página no Facebook.

As ideias defendidas por Leon Trotsky são de importância crucial para as novas gerações neste novo período de luta de classes. O período em que entramos foi anunciado pelos inspiradores movimentos de massas insurrecionais que explodiram em todas as partes do mundo no último par de anos. Está aqui enraizada a motivação por trás da luta de toda a vida de Esteban Volkov para preservar estas ideias.

Para tornar cada vez mais acessível o legado do bolchevismo, foi anunciado que o Museu Trotsky uniu forças com o Centro de Estudos Socialistas Carlos Marx, a editora em espanhol da CMI, para colocar à disposição gratuitamente todas as principais obras de Leon Trotsky. Estes são os livros que explicam por que caiu a URSS e que o socialismo nada tem a ver com a caricatura burocrática e totalitária encarnada por Stalin e sua “Nomenklatura” contrarrevolucionária. São livros que pavimentam o caminho do presente e do futuro.

Como concluiu Alan: “O autêntico monumento de Trotsky não é algo de bronze ou de ouro ou cimento armado ou mármore. É o monumento indestrutível de seus livros”, que contêm algo que nunca se pode matar, “uma ideia cujo tempo chegou, e estas ideias, queridos amigos, são as ideias geniais do marxismo. O trabalho de Esteban foi fundamental neste sentido”.

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