Terremoto trabalhista nas eleições gerais da Nova Zelândia

Um terremoto político atingiu a Nova Zelândia na noite das eleições gerais, com o Partido Trabalhista (Labour Party) garantindo um segundo mandato com maioria absoluta. Esta é a primeira vez, desde que o sistema de votação MMP [Mixed Member Proportional System – votação de cada eleitor por um candidato e por um partido – NDT] foi introduzido em 1996, que um partido político obteve tal maioria.


[Source]

Esta eleição é altamente significativa na política da Nova Zelândia. Mostra a mudança dramática à esquerda dentro da sociedade e o surgimento da polarização. Na verdade, o único paralelo com essa eleição está na eleição geral de 1938 da era da Depressão, quando o trabalhismo foi reeleito, sob o sistema de votação anterior, com uma oscilação de 10,1% do Partido Nacional ao Trabalhista. Isso permitiu ao governo trabalhista de Mickey Savage introduzir integralmente o estado de bem-estar e outras reformas em favor dos trabalhadores.

Efeito Ardern

Infelizmente, há poucas comparações políticas entre o Partido Trabalhista atual e aquele eleito na década de 1930. O programa promete muito pouco e não representa nada do tipo de mudança fundamental que a retórica de Ardern às vezes sugere e, como apontamos em julho (Eliminação da Covid-19 e o novo normal na Nova Zelândia), não resolve a crise que agora enfrenta a Nova Zelândia.

A liderança de Jacinda Ardern durante o massacre de Christchurch, o desastre da erupção vulcânica Whakaari e durante a pandemia, que libertou a Nova Zelândia da Covid-19, foi recompensada com a maioria absoluta. Aos olhos dos neozelandeses comuns, a liderança de Ardern durante a pandemia foi exemplar. Os neozelandeses não estão fechados e separados dentro de suas fronteiras e veem o que está acontecendo no exterior, no Reino Unido, na Europa e nos Estados Unidos, no que diz respeito à pandemia e consideram-se afortunados com o fato de que a estratégia de eliminação da Covid-19 do governo funcionou, e isso é visto como algo de que se orgulhar.

O Partido Nacional

O Partido Nacional foi derrotado. Eles perderam grande número de eleitores nas áreas rurais e nas cidades provinciais. Houve perdas nacionais de figuras de alto perfil para o Partido Trabalhista, como o vice-líder Gerry Brownlee perdendo em Ilam (bairro de Christchurch) e Nick Smith perdendo em Nelson (cidade na costa leste). No entanto, esses indivíduos derrotados retornarão como deputados da lista, a menos que decidam abandonar a política. Brownlee certamente parecia um homem derrotado na noite da eleição quando a contagem revelou seu destino.

A votação do Partido Nacional entrou em colapso devido à mudança para a esquerda dentro da sociedade. O Nacional fez sua política habitual de ladridos de cães sobre as questões da obesidade e da falta de moradia (associando ambas as coisas com Māori e Pasifika), sem nenhum resultado a não ser o de reduzir sua votação! Brownlee ao espalhar notícias falsas sobre o governo ocultar as cifras da Covid-19 na Nova Zelândia em agosto selou seu destino, e o do Partido Nacional também. Além disso, quando o Nacional anunciou sua receita de política econômica de austeridade, os números não somaram corretamente e os eleitores não confiaram neles.

A luta interna aberta no Partido Nacional, resultando em três Líderes da Oposição desde o início de 2020, afastou os eleitores também, resultando em potenciais eleitores do partido Nacional mudando em massa para o Partido Trabalhista ou para o libertário ACT.

Mais uma vez, os neozelandeses observaram o que outros governos de direita estavam fazendo no exterior. Isso teve seu efeito também. A pergunta que os habitantes comuns da Nova Zelândia estavam ponderando é: queremos eleger um governo nacional de combate e acabar em uma situação de desordem geral como no Reino Unido ou nos EUA?

O Partido Nova Zelândia Primeiro (NZF)

NZF não conseguiu ganhar o eleitorado ou ultrapassar o limite de 5% para regressar ao Parlamento. Este partido conservador demagógico de direita obteve o resultado eleitoral que merece. Por um lado, os eleitores trabalhistas viram a NZF como um freio de mão político às políticas trabalhistas progressistas no antigo governo de coalizão trabalhista e, por outro lado, os eleitores do Partido Nacional viram como uma traição quando a NZF entrou em uma coalizão com os trabalhistas em 2017. Sem dúvida, a virada para a esquerda na sociedade desempenhou um papel importante neste merecido resultado eleitoral.

O NZF foi criado como um veículo político para Winston Peters, que agora tem 75 anos de idade. É mais provável que o partido murche da mesma maneira que o United Future quando Peter Dunne foi derrotado pelo Partido Trabalhista nas eleições gerais de 2017.

O Partido Verde

O Partido Verde posicionou sua política à esquerda do trabalhismo e aproveitou a mudança para a esquerda em termos eleitorais com bons resultados. Os Verdes venceram no Auckland Central e terão nove deputados na lista. Esta é uma grande conquista para os Verdes que ganharam um eleitorado pela última vez em 1999. Na retórica, o Partido Verde vai ser uma pedra no sapato dos trabalhistas. No entanto, não podemos descartar que o Partido Trabalhista tentará fazer uma coalizão apesar de sua maioria e dar ao Partido Verde pastas ministeriais fora do gabinete para tentar neutralizar os ataques.

Partido ACT

Mais uma vez, o Partido Nacional fez um excelente acordo com o ACT [ACT Nova Zelândia, geralmente conhecido como ACT; é um partido político liberal e “libertário” de direita – NDT] no eleitorado de Epsom para não contestar seriamente a cadeira, e deu um aceno de cabeça e uma piscadela para os eleitores do Partido Nacional apoiarem o ACT. O ACT se saiu muito bem na eleição, não apenas vencendo em Epsom, mas conquistando 8% dos votos gerais e terá dez parlamentares. ACT é um partido libertário de direita que foi criado pelos traidores trabalhistas que introduziram a Rogernomics (após as políticas econômicas de direita seguidas pelo então ministro das Finanças do Partido Trabalhista, Roger Douglas) na Nova Zelândia nos governos trabalhistas dos anos 1980. A razão pela qual o ACT se saiu tão bem foi que alguns eleitores do Partido Nacional mudaram para eles na vã tentativa de reforçar o voto certo sob o MMP, para que um potencial governo de direita pudesse ser formado. Obviamente, esses eleitores calcularam mal e não compreenderam a magnitude do terremoto político à esquerda. O ACT implodirá no parlamento e ocorrerá uma luta interna no seio desse “interessante” bando de libertários de direita!

O Partido Māori

O Partido Māori está liderando o eleitorado Māori de Waiariki por 415 votos de Tamati Coffey do Partido Trabalhista. O resultado será decidido por votação especial, feita por pessoas que se inscreveram após a data prevista. O renascimento do Partido Māori não é surpreendente, pois o partido tem uma nova camada de jovens ativistas e apresentou uma plataforma política de esquerda. Quando adicionado ao fracasso do Partido Trabalhista em ajudar os Māori no governo em áreas como previdência social, saúde, justiça, habitação e educação, o resultado não é surpreendente. Se o resultado permanecer o mesmo, o Partido Māori terá um parlamentar, possivelmente dois se o partido ganhar acima de 1,2% da votação. Este é um primeiro tiro de aviso na proa do trabalhismo do que eles têm que fazer para a classe trabalhadora Māori (e por extensão, todos os trabalhadores em Aotearoa).

Votos especiais

Os votos especiais irão beneficiar os partidos de esquerda e possivelmente aumentar a maioria trabalhista. Deve-se notar que há uma série de assentos no eleitorado que o Partido Nacional acabou de conquistar e há a possibilidade de que esses votos façam com que um ou dois votos vão para o Partido Trabalhista. Tal resultado não mudará muito a aritmética dos assentos do MMP, mas certamente os assentos da lista irão para a esquerda à medida que sua proporcionalidade é aumentada sob o MMP.

Tsunami econômico

Estando no Círculo de Fogo do Pacífico, todo neozelandês sabe que um tsunami provavelmente ocorrerá após um terremoto de grande magnitude e que nossa defesa civil deve estar preparada para tal eventualidade. Um tsunami econômico está se dirigindo para a Nova Zelândia após este terremoto político de alta magnitude. Os primeiros sinais de alerta já estão aqui, com uma recessão profunda começando, aumentando o endividamento público e o desemprego. O trabalhismo tem maioria absoluta. Os líderes trabalhistas de direita não podem mais se esconder atrás do NZF e dizer que não há nada que eles possam fazer.

As políticas atuais dos líderes trabalhistas de direita são sobre a gestão do capitalismo. Por mais bem intencionados que sejam os líderes trabalhistas de direita, isso significará inevitavelmente dobrar os joelhos ante os capitalistas e levar a cabo a lógica do capitalismo, trazendo severa austeridade contra a classe trabalhadora. Isso é exatamente o que foi rejeitado pela esmagadora maioria dos eleitores nas eleições gerais.

Os economistas já estão alertando Ardern de que o segundo mandato será mais difícil do que o primeiro. O que eles estão realmente dizendo é que a classe dominante apelará ao Partido Trabahista para realizar ataques contra a classe trabalhadora. Como escrevemos em julho, o governo depois das eleições será de crise.

O governo trabalhista deve romper com o capitalismo, ir para a esquerda e adotar políticas socialistas ousadas que abordem as questões enfrentadas pelos trabalhadores. Caso contrário, a desilusão acabará por se estabelecer entre as massas e pavimentar o caminho para a direita ganhar o poder novamente. Políticas socialistas ousadas, como nacionalização e controle e gestão dos trabalhadores, são as medidas de defesa civil necessárias para que os trabalhadores sobrevivam e prosperem após o tsunami econômico capitalista atingir a Nova Zelândia

Oposição trabalhista

A verdadeira oposição à liderança trabalhista de direita não virá do Partido Nacional no parlamento, mas das bases revigoradas do Partido Trabalhista e sindicatos filiados. Os líderes trabalhistas de direita estarão sob enorme pressão e terão dificuldade em manter a disciplina do caucus devido ao grande número de deputados. Os burgueses já estão sugerindo que há uma falta de “experiência” no caucus. As contradições se intensificarão entre, por um lado, a pressão da classe dominante, transmitida pela direção do partido e dos sindicatos, e por outro lado, os trabalhadores, por meio da base do partido e dos sindicatos, o que afetará os novos parlamentares. Isso oferece grandes oportunidades para a construção das ideias do marxismo no movimento operário.

Vamos adiante (Let’s Keep Moving) foi o slogan das eleições gerais do Partido Trabalhista. Dizemos: Vamos adiante, em direção ao socialismo!

Join us

If you want more information about joining the IMT, fill in this form. We will get back to you as soon as possible.