13 mil mortos, um jet ski e a troca na Polícia Federal

Hoje, 13 de maio, o número total de mortos oficialmente declarados em decorrência da Covid-19 é de 13.149, com 749 óbitos registrados nas últimas 24 horas.

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Guerra?

“Estamos em guerra, e na guerra a gente enterra”, declarou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. As cenas de Manaus, com enterros coletivos, assombram as TVs. Sobre medidas de isolamento e parada total, o prefeito informa que não é possível implementá-las na “sua cidade”, que ele conhece muito bem.

Guerra? Se for isso, e se formos seguir as orientações do prefeito de Manaus ou do presidente Bolsonaro, nós já nos rendemos. Enquanto Virgílio declara que não pode mudar nada, Bolsonaro faz um decreto classificando salões de beleza como “serviços essenciais”. Até o quase-morto Ministro Teich (da Saúde) se surpreende com tal façanha.

Guerra? Se for isto, Bolsonaro não só entregou o país como comemora com o inimigo, como demonstra a sua alegria no dia 9 de maio, ao passear de jet ski (em vez de promover um churrasco em sua casa), como que celebrando os 10 mil mortos atingidos naquele dia.

Guerra? Talvez para todos os trabalhadores da saúde, que sofrem o dia a dia, sem equipamentos de proteção adequada, sem remédios, sem respiradores, sem local onde acomodar os doentes. E isso é só a ponta do iceberg, porque o Titanic da saúde vai muito mais ao fundo: a Sociedade Brasileira de Oncologia denuncia que estima em 50 mil o número de cânceres não detectados no período porque os pacientes ou não têm vaga nos hospitais (Covid-19 é prioridade e ocupa tudo) ou têm medo de procurar assistência médica nesta hora.

As bombas estão armadas e vão explodir contra os proletários que sofrem no dia a dia com falta de assistência.

Burgueses e proletários

Os donos de planos de saúde e de hospitais privados estão em pânico. O número de internações e consultas médicas corriqueiras, que garantem os lucros do setor, baixaram drasticamente. Além disso, eles temem a intervenção estatal para requisitar leitos e pessoal para tratamento dos proletários que não têm plano de saúde e estão morrendo nas filas dos hospitais e UPAs.

A burguesia, pode viajar para a Alemanha ou se tratar nos hospitais de referência de São Paulo, como Sírio-Libanês ou Albert Einstein. Ela também pode “curtir” seu isolamento social em mansões ou sítios bem estruturados.

Os proletários, pelo contrário, continuam amontoados em casas pequenas, têm que ir trabalhar todo dia — porque fábricas, construções, supermercados e transporte têm que funcionar — e enchem as ruas com filas em busca dos míseros R$ 600 prometidos, que não saem para quase metade dos que solicitaram.

Para completar o quadro, o desemprego aumenta, diversas atividades “informais” foram para o espaço (como ambulantes), os “acordos” de redução de hora de trabalho e salário atingem no último levantamento da Folha de São Paulo mais de 6 milhões de trabalhadores. Tudo isso cai em cima dos proletários.

Enquanto os burgueses podem contratar tutores, contam com escolas particulares e aulas on-line, a maioria dos proletários vê seus filhos amontoados em casa, sem acesso à internet ou com acesso precário e sem local apropriado de estudo.

O “Sinistro” da Educação, por sua vez, declara que o Enem é para os “mais competentes” e não para reduzir diferenças sociais. E que vai ser mantido, doa a quem doer. Essa dor, no entanto, segue maior para os proletários, que não têm dinheiro nem para comprar novalgina e aliviá-la, e isso vai explodir, mais dia ou menos dia.

Guerra? Sim, existe uma guerra, mas não é uma “guerra contra o vírus, contra a pandemia” onde estamos todos juntos. É uma guerra da burguesia contra o proletariado para a retirada de todos os direitos que foram conquistados a duras penas durante o século 20 e para rebaixar os trabalhadores aos piores dias do século 19, com salários baixíssimos, com baixa expectativa de vida, sem direito à saúde, educação nem a um enterro decente.

O vírus é apenas uma das condições onde se desenvolve essa batalha. Ele é uma tempestade de neve que cai subitamente sobre os exércitos em luta, encontrando um dos lados com botas impermeáveis e abrigos e o outro descalço e sem comida. O medo da burguesia é que essa guerra seja escancarada e que, apesar de todos os apetrechos, seu exército seja superado pelo número.

Decorre disto o conteúdo dos jornais no dia 13 de maio: esqueçam a libertação dos escravos, esqueçam o debate entre os que defendem a Princesa Isabel e os que explicam, como nós, que o combate de escravos e proletários obrigou a corte a libertar os escravos. Agora, que as mazelas da corte presidencial estão escancaradas para todo mundo, é necessário não fazer muita marola.

O lumpemproletariado e a corte presidencial

Marx, no livro sobre a ascensão de Luís Bonaparte a imperador (“O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”) mostra como o lumpemproletariado pode ser usado pela burguesia enquanto instrumento de manutenção do poder em períodos de crise. A burguesia brasileira tentou isso com Bolsonaro e, hoje, encontra-se dividida sobre o que fazer.

A corte presidencial, disfarçada em reunião ministerial, escancara em vídeo o que todos já sabiam, mas agora vem a nu: ministros falando abertamente em golpe de Estado (prender ministros do STF, governadores e prefeitos), o presidente (aspirante a imperador) declarando que as forças de segurança não podem mexer com seus filhos.

Todos os elementos de uma reunião de quadrilha que trata de se autoproteger. Afinal, o que esperar quando chega ao poder uma “corte presidencial” que tem ligações com o submundo das milícias e outras partes do lumpemproletariado do Rio de Janeiro?

A cautela dos editorias dos jornais deste dia 13 frente à crise que todos estampam em suas primeiras páginas (Globo, Folha e Estadão), sem que nenhum deles defenda o afastamento já do presidente, é decorrente do medo que sentem de quando os números da pandemia forem cada vez mais se traduzindo em sentimentos concretos. Hoje, são 13 mil mortos, daqui a pouco serão dezenas de milhares e todo mundo vai conhecer um parente, um amigo, que foi vitimado. Vai explodir a revolta com as condições de vida e pelo sentimento de que nada disso vai mudar, que nada vai melhorar. Por isso, a burguesia treme.

Uma parte da burguesia, aliás, começa a flertar abertamente com o fascismo (financiando os 300, de forma muito limitada). Bolsonaro e sua corte tentam manipular isso, como Getúlio manipulou Plínio Salgado e seus camisas verdes. Mas evitam se comprometer. Seu maior lance ainda é o autogolpe, com a ajuda dos militares que compõe o governo. Os três ministros generais da reserva, Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Souza Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), ao contrário do que esperava a burguesia, mantiveram a defesa do chefe nos depoimentos à Justiça e nada reclamaram dos palavrões e ameaças ao STF durante a reunião da corte exposta em vídeo.

O Congresso? Ai, tadinhos desses parlamentares. Enquanto a corte conspira abertamente para um golpe, o Congresso aprova o chamado “orçamento de guerra”, que abre o caixa do governo para Bolsonaro pretensamente defender a saúde (o que é uma piada de mau gosto) e permite que ele compre parlamentares e apoio suficiente para o golpe que abertamente planeja. Se no começo do ano o Congresso disputava com Bolsonaro um valor “irrisório” de R$ 15 bilhões no orçamento, para ver quem controlava as emendas parlamentares, ele agora se rende e abre um crédito ilimitado para o presidente comprar o parlamentar que quiser ao preço que eles pedirem.

E tudo isto feito com o voto do PT, do PCdoB e do PSOL. Compram a corda com dinheiro alheio (o dinheiro do orçamento) e entregam para Bolsonaro enforcá-los em praça pública.

A luta está no futuro

O medo da burguesia tem sua razão. A raiva se acumula no proletariado. As divisões nas cúpulas se aceleram com a divulgação da fita. Afinal, os ministros do STF não vão querer entregar o seu pescoço tão fácil.

Os comunistas, desde já, chamando os Comitês de Ação pelo Fora Bolsonaro, preparando o Encontro da Juventude pelo Fora Bolsonaro, estarão juntos com o proletariado para acabar com este sistema de opressão, de miséria e degradação social que é o capitalismo.

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