Resultado das eleições na Espanha: um duro golpe para o regime

Depois de divulgado o resultado das eleições, um dos porta-vozes do partido de direita PP descreve a Espanha como “ingovernável”. Está é uma imagem adequada do país no momento.

O resultado das eleições produziu um parlamento extremamente fragmentado que, como explicamos recentemente, reflete a polarização das classes e a radicalização que tem tomado lugar na Espanha nos últimos anos. O sintoma mais claro desse processo é a irrupção de PODEMOS, partido de esquerda que obteve 20,66%, 1,35% de distância do PSOE, partido social democrata tradicional, dando à politica espanhola um grande choque. Como Pablo Iglesias afirmou: “A Espanha votou por uma mudança no sistema”.

Os resultados:

PP (de direita): 28,72%, 123 assentos
PSOE (centro-esquerda): 22,01%, 90 lugares
PODEMOS (de esquerda): 20,66%, 69 assentos
Ciudadanos (populistas de direita): 13,93%, 40 lugares
Izquierda Unida-Unidade Popular (de esquerda): 3,67%, 2 lugares
ERC (Nacionalistas catalães de centro-esquerda): 2,39%, 9 lugares
Dil-CDC (Catalão nacionalistas de direita): 2,25%, 8 lugares
PNV (bascos nacionalistas de direita): 1,2%, 6 lugares
CC (regionalistas Canárias): 1 assento

A primeira coisa que deve ser notada é que o sistema de dois partidos que foi o pivô do regime burguês estabelecido após a morte de Franco, onde o PP e o PSOE se revezavam no poder, e onde o PSOE agia como uma válvula de segurança para a ira popular contra a direita, não existe mais. A ascensão do PODEMOS, impulsionada por uma onda de radicalização, estourou todas as válvulas de escape da democracia burguesa espanhola.

O PP perdeu 15,92% em comparação a 2011, quase 4 milhões de votos. Ciudadanos, que havia sido artificialmente inflado pela mídia e pelos capitalistas com injeção de dinheiro no partido durante meses, foi inesperadamente mal. No último estágio da campanha, muitas pessoas começaram a vê-los corretamente como de direita, um partido reacionário, criado como um substituto em potencial para o PP. No entanto o PSOE não conseguiu capturar qualquer um desses votos, perdendo 6,7% desde 2011, mais de um 1,5 milhão de votos.

É importante salientar a erosão do PSOE, um desenvolvimento que na Espanha é muitas vezes referido com a “pasokização” do partido, em uma referência ao poderoso e agora inexistente partido social democrata grego, o PASOK. Ao contrário do PASOK, o PSOE ainda não introduziu ligações claras com a direita. Seu período no poder em que levou a cabo medidas de austeridade evidentes durou apenas um ano e meio, a partir do momento em que a primeira rodada de cortes foi anunciada por Zapatero, em maio de 2011, muito menos do que o PASOK. Essa rápida erosão do PSOE, enquanto a oposição testemunha rápida radicalização da população espanhola nestes anos de mobilização em massa e luta de classes. A renovação da liderança do partido após as eleições da UE, maio de 2014, substituindo Pérez Rubalcaba pelo jovem Pedro Sánchez , não conseguiu travar o declínio do PSOE. A situação que agora se encontra, não apenas reflete o fato de que as pessoas querem acertar as contas com um partido que tem efetuado austeridade e que tem estado envolvido com inúmeros escândalos de corrupção, mas também a compreensão por parte de um setor importante da população que os problemas da sociedade espanhola não podem ser resolvidos através das políticas “moderadas” do PSOE, que propõe nada mais que uma forma mais branda de austeridade; o que é necessário é uma transformação de raiz e de rumo da sociedade espanhola.

Sem dúvida o partido que é visto como veículo para a mudança política radical é o PODEMOS. Criado em fevereiro de 2014, ele subiu a velocidade vertiginosa e ficou em 3º lugar nas eleições. Apesar do fato que ele foi submetido a vários meses de estagnação, quando a previsão era de que ele chegaria em quarto, atrás do Ciudadanos, com cerca de 10-15%, PODEMOS inverteu a tendência com uma campanha poderosa em que utilizou uma linguagem de esquerda baseada em classes e apelou à memória de todas as lutas dos últimos anos. Em seu último comício eleitoral em Valencia, que reuniu cerca de 12 mil pessoas, Pablo Iglesias fez referências às lutas dos anos 1930 e 1970, afirmando que a linguagem pode ter mudado desde então, mas os ideais permanecem os mesmos, e afirmou que o regime de Franco foi derrubado pelo movimento operário . A presença de Ada Colau, prefeita de Barcelona e militante anti-despejos, ao longo de toda a campanha, foi muito importante na subida de PODEMOS. Foi com base nessa campanha que o PODEMOS foi capaz de recuperar seu impulso inicial. Embora ele não tenha conseguido ultrapassar o PSOE, seus resultados são significativos: 20,66%, 5.159.078 milhões de votos.

Junto ao resultado do PODEMOS, devemos acrescentar o respeitável 3,68% da Izquierda Unida (IU), quase um milhão de votos, e devemos ter em mente que seus votos na Catalunha e Galiza, onde se situaram em coalizões mais amplas com o PODEMOS e outras forças, não são contados nessa ilustração. Essa campanha centrada em torno do seu carismático líder Alberto Garzon, que, apelando para uma ala de esquerda e classista, também foi capaz de reunir milhões de pessoas. O resultado, porém, foi mais baixo para a coalização IU, um preço que se paga por anos de erro e cegueira burocrática por parte de seus dirigentes.

Juntos o PODEMOS e a IU tem 576.073 votos a mais que o PSOE. Isso mais uma vez destaca a importância da unidade da esquerda, que foi afundada pelos estreitos interesses de ambos os aparelhos dos partidos. É importante guardar essa lição para o futuro.

Quem votou no PODEMOS ?

A repartição dos votos nos dá um quadro da situação política no país. Temos que cavar um pouco mais, no entanto, para ver a real dinâmica que está em jogo na sociedade espanhola. A verdade é que como uma nova força que está nadando com a corrente dos tempos, PODEMOS saiu-se melhor entre a classe trabalhadora das grandes cidades, embora uma análise mais detalhada dos resultados seja necessária, é esperado a partir as sondagens prévias, que o PODEMOS emergiu mais forte entre os jovens. O PP e o PSOE mantiveram sua base de apoio nos idosos das pequenas cidades e área rurais, é importante lembrar que especialmente entre os idosos e as camadas menos politizadas da população, muitos continuam  a ver o PSOE como de esquerda, partido progressista. A combinação dos votos do PSOE, PODEMOS, IU e outras forças menores como o ERC ou Bildu, marcaram uma curva acentuada à esquerda na sociedade.

O PODEMOS e suas coligações aliadas ultrapassaram o PSOE na maioria das grandes cidades: Madrid, Barcelona, Valência, Alicante, Zaragoza, Bilbao, Oviedo, Corunha, Palma de Mallorca, Vigo, Vitória, Donosti-San Sebastian, Tarragona, Santa Cruz de Tenerife etc., as únicas exceções foram Sevilha e Málaga na Andaluzia, onde o PSOE é historicamente forte.

Um olhar mais atento mostrar uma organização da classe trabalhadora nos votos do PODEMOS. O PODEMOS veio primeiro nas periferias industriais das grandes cidades, os chamados “cinturões vermelhos” onde os batalhões mais pesados da classe trabalhadora estão concentrados:  em áreas como Rivas, Coslada e Parla em Madri; Hospitalet del Llobregat, Santa Coloma del Gramenet e Terrassa, em Barcelona; Pasaia em Donostia-San Sebastián; Paiporta e Paterna, em Valência e Bilbao Barakaldo. Em muitos desses lugares o PODEMOS ganhou mais de 30%. Outros importantes círculos eleitorais de esquerda, como Cádiz e Coruña, onde as listas unidas patrocinadas pelo PODEMOS venceram as eleições locais de maio, também viram resultados impressionantes para o PODEMOS.

Esses números frios, no entanto, deixam de dar uma imagem completa das forças que a classe tem jogado fora. A participação foi 3% maior do que nas últimas eleições em 2011, mas este aumento foi muito desigual. Os dez municípios onde com uma população de mais de 100.000, onde a taxa de participação aumentou mais, foram: Santa Coloma de Gramenet, Cádiz, Barakaldo, Donostia-San Sebastián, Getafe, Vitoria-Gasteiz, Vigo, Corunha, Terrassa, Hospitalet de Llobregat. Como pode ser visto, tudo isso são áreas da classe trabalhadora que votaram massivamente no PODEMOS.

Por outro lado, os dez municípios com uma população de mais de 100.000, quando a participação caiu mais em comparação com 2011, foram : Granada, Gijón, Mataró, Alicante, Huelva, Córdoba, Murcia, Badajoz, Jaén, Cartagena. Essas são todas pequenas cidades do interior, baseadas no turismo e na agricultura, e são bastiões tradicionais do PP.

Esses números são complementados por relatos locais, que falam de comícios embalados em áreas da classe trabalhadora, como Nou Barris, em Barcelona, onde as pessoas estavam cheias de entusiasmo, em contraste com os comícios vazio nas áreas com mais eleitores idosos da direita, como San Juan em Alicante. A participação caiu mais acentuadamente na pequena cidade de Andaluzia, região central do PSOE.

O que tudo isso reflete é uma classe trabalhadora urbana na ofensiva e uma pequena burguesia e a população rural, confusa e desmoralizada. A abstenção nas províncias tradicionais do PSOE sugere que muitos eleitores não tinha certeza se votavam a favor do PSOE ou iam para o PODEMOS, mas podem ser conquistados por esse último em um futuro próximo.

É importante notar que a lei eleitoral espanhola é impermeável à abstenção – cada província recebe um determinado número de assentos parlamentares, independentemente da participação. Isso beneficiou os redutos rurais do PSOE, onde a abstenção foi alta, enquanto as grandes cidades, onde PODEMOS teve um bom resultado, não foram recompensados por ter uma elevada taxa de participação. Isso ajuda a explicar porque entre duas partes, que receberam quase o mesmo número de votos, há uma diferença tão escandalosa de 21 assentos no parlamento.

Talvez o aspecto mais notável  dos resultados foi na  Catalunha, onde o  En Comu Podem, uma coalizão incluindo PODEMOS , Esquerda Unida e Barcelona En Comu, entre outros , ganhou o maior número de votos . Ela veio pela primeira vez nas províncias de Barcelona e Tarragona.

Ela foi muito bem  na cidade de Barcelona, onde obteve ainda mais votos do que a coalizão  BEC de Ada Colau obteve nas eleições regionais em maio, quando ela conquistou a prefeitura .

Como já explicamos recentemente, o PODEMOS manteve-se como parte de uma ampla frente eleitoral com outros partidos de esquerda e movimentos anti-austeridade, En Comu Podem, sob a liderança carismática de Ada Colau, a prefeito de Barcelona que tem posições mais à esquerda do que a direção nacional do PODEMOS.

De fato a campanha dessa frente foi mais radical do que a do PODEMOS nacionalmente, baseada num recorte de classe. Sua linguagem sobre a questão nacional tem sido inequívoca, vigorosamente defendendo o direito de auto-determinação da Catalunha, e fazendo um referendo vinculado sobre a independência  de um pré-requisito para quaisquer acordos governamentais.

É importante ressaltar que Dil –CDC, o partido nacionalista burguês liderado por Artur Mas que tem estado na frente do movimento pró-independência, foi mal nas eleições. Ele caiu de mais de 1 milhão de votos em 2011 para quase metade desse número, marcando apenas 15% na Catalunha e chegando em quarto lugar. Os nacionalista de centro esquerda do ERC tiveram ganhos importantes, dobrando seus votos para 600.000.

Tudo isso aponta para uma grande virada à esquerda na sociedade catalã. Como se tinha explicado anteriormente, sob a superfície da polarização nacional que marcou as eleições regionais de setembro, poderosas contradições de classe estavam se construindo. Muitos trabalhadores e jovens viram o voto para os partidos nacionalistas como um desafio para o governo de direita em Madrid e para todo o estabelecimento, e votou para amenizar seu ódio de classe em vez de defender uma identidade nacional catalã.

Algumas das camadas mais conservadoras da classe trabalhadora também votaram em Ciudadanos em Setembro, com medo da separação da Espanha e também para se distinguir do demagogo burguês Artur Mas.

Nas eleições atuais, En Comu Podem, através de uma linguagem baseada em classe e com um programa para a transformação radical da sociedade, foi capaz de captar grande parte dos votos nacionalistas progressistas e também o apoio dos Ex-Psoe e os eleitores do Ciudadanos. Na Catalunha o partido do governo Espanhol, PP, chegou em sexto com apenas 11% dos votos.

O PODEMOS também foi muito bem no País Basco, chegando em primeiro lugar geral e em Araba e Gipuzkoa (um reduto tradicional da esquerda nacionalista), e foi muito bem em Bizkaia, onde ficou apenas a alguns milhares de votos de vir em primeiro lugar. Os resultados na Galícia também foram bons. Aqui o PODEMOS também  estava em uma frente ampla, En Marea, que incluiu os nacionalistas de esquerda de Xosé Manuel Beiras . En Marea veio em segundo na Galícia com 25% acima do PSOE e venceu na maior e mais industrial cidade de Vigo, com 34%.

Isso mostra como nas diferentes nacionalidades, há também uma forte corrente a procura de aliados no resto da Espanha para a luta pelos direitos nacionais e contra a austeridade.

Coalizões instáveis

Uma caixa de pandora foi aberta. Um período extremamente interessante se abre agora na Espanha. A manchete do Financial Times após os resultados foi “A Espanha lidera a Turbulência”. De fato instabilidade e luta de classes será a norma no próximo período. A bolsa espanhola reagiu aos resultados com perdas, uma medida confiável do estado de espirito da burguesia. Será extremamente difícil costurar um governo agora. O fracasso do Ciudadanos quebrou as esperanças de uma coligação PP-Ciudadanos ter uma maioria absoluta. Mas a classe dominante precisa de “estabilidade”, ou seja, um governo forte que possa continuar com as políticas de ataques e cortes de austeridade do PP.

Existem três possibilidades agora. A primeira é uma grande coalizão entre PP e PSOE. Esta seria a única forma estável de governo, uma vez que implicaria apenas duas forças que trabalharam juntas no passado (por exemplo, no governo regional basco), e apesar de sua inimizade verbal, tem sido as partes confiáveis da burguesia. Eles teriam uma maioria considerável de 213 assentos na câmara de 350. No entanto, tal aliança seria destruir politicamente o PSOE e colocá-lo firmemente no caminho do PASOK grego. Na verdade, essa linha é muito arriscada, porque ela vai deixar o regime burguês desprotegido em seus flancos de esquerda. No entanto, não é impensável que os capitalistas tentem pressionar por um acordo desse tipo, mantendo o Ciudadanos de fora e preservá-lo como um trunfo para o futuro. Já antes das eleições, a grande imprensa burguesa, ecoando fontes internas do PP, discutiu a sério a possibilidade de substituir a atual liderança do PSOE de Pedro Sanchez com a presidente de Andaluzia, Susana Diaz, que representa a ala direita do partido, e em seguida empurrar para um pacto com o PP.

A segunda opção é um acordo entre o PSOE e o PODEMOS, que só teria 159 assentos , 16 a menos que maioria, e portanto teria que incluir forças adicionais  de pelo menos da Esquerda Unida, ERC, Bildu, CC e possivelmente o PNV. O Ciudadanos já deixou claro que não apoiaria um governo com o PODEMOS nele. Essa seria uma configuração muito instável que vai precisar fazer aritméticas muito complexas para passar cada lei. Existem também obstáculos muito importantes para a formação de tal governo. Um referendo vinculado para a Catalunha, que, como dissemos acima, o PODEMOS fez um pré-requisito para  quaisquer acordos pós eleitorais, seria um pílula difícil de engolir para o PSOE, que tem resistido sistematicamente pela unidade da Espanha. A presença  de Em Comu Podem e a necessidade de trazer ERC em tal pacto, torna esse ponto inegociável.

Há também a lei da reforma eleitoral, que provavelmente irá surgir como uma das principais exigências, e que o PSOE se opõe, desde que o sistema atual o favoreça consideravelmente . Em termos gerais o PSOE e o PODEMOS tem quase a mesma porcentagem de votos . Isso não seria um acordo com partidos menores como em Portugal, onde o Bloco de Esquerda e o PCP ainda representam uma pequena minoria, mas uma aliança, com uma força poderosa e crescente que estaria em condições de arrancar muitas concessões do PSOE.

A classe dominante irá se mobilizar contra qualquer acordo potencial envolvendo o PODEMOS, e o PSOE irá sob muita pressão rejeitar isso. No todo, embora ainda esteja para ser visto, essa opção parece muito improvável.

Finalmente, a terceira opção é voltar às urnas em alguns meses. Poucas pessoas querem isso, especialmente entre os sérios estrategistas da burguesia, uma vez que dificilmente irá se resolver o atual impasse , e pode na verdade torná-lo pior. Isso abre um cenário grego de extrema instabilidade.

O PSOE em especial, sente que está perdendo vento de suas velas e provavelmente vai querer evitar o retorno às urnas. No entanto, dentro de alguns meses, o PP pode se sentir forte o suficiente para convocar eleições apresentando-se como o único que garante a estabilidade, na esperança de recuperar os eleitores perdidos para o Ciudadanos e outras forças.

Para a classe dominante, todas as opções são ruins. Este impasse parlamentar, em última análise, reflete a intensidade da luta de classes na Espanha e o fato que a classe trabalhadora tem colocado a burguesia na defensiva.

Qual o caminho para o PODEMOS?

O PODEMOS agora deve ir para a ofensiva e colocar o PSOE contra as cordas. Deve insistir em reverter as medidas de austeridade e as leis reacionárias do PP, e fazer disso uma pré-condição para qualquer negociação de coalizão. Se o PSOE se recusar, então ele vai ser ainda mais exposto como um partido pró-austeridade. A defesa do direito à autodeterminação nacional deve ser outro elemento chave da atividade parlamentar do PODEMOS. Deve tentar colar o PSOE sob pressão em função dessas exigências, para mostrar às massas que é melhor que o PP.

O cenário mais provável é o PODEMOS sendo o principal partido de oposição nos próximos meses. Algumas coisas serão importantes então, juntamente com a Izquierda Unida, PODEMOS poderia ter ultrapassado o PSOE. Foi nas regiões onde o PODEMOS estava em frentes amplas, que o resultado foi melhor. A unidade de esquerda não deve ser posta em risco novamente. Outra característica importante é que no último ano e meio, quando os espanhóis foram chamados às urnas várias vezes, a atenção das massas tem sido na frente eleitoral. Mesmo assim, a perspectiva de um novo governo burguês no poder durante o período que se aproxima pode empurrar as pessoas para as ruas de novo e poderemos ver novas rodadas de protestos como em 2011-2014. PODEMOS deve colocar-se na vanguarda desses movimentos e usar seu enorme poder de mobilização nas ruas.

Há, no entanto, uma lição geral a ser tirada das últimas semanas. Durante a campanha Pablo Iglesias foi capaz de superar a estagnação que o PODEMOS vinha experimentando graças uma linguagem radical com recorte de classe. Ele começou a falar novamente da classe operária, do socialismo, das tradições revolucionárias dos povos da Espanha. Um impulso para a esquerda dado por Ada Colau e En Comu Podem também foi importante. Este também foi o caso durante as eleições regionais de maio de 2015, quando o PODEMOS virou à esquerda. No comício após o resultado das eleições, Iglesias disse “Hoje, mais um vez ouvimos a voz da classe operária que conquistou seus direitos através de greves... A voz da república de Largo Caballero, de Companys, de Durruti, de Andreu Nin, de Salvador Allende .. Vamos dar democracia para a economia , a história é nossa, as pessoas fazem a história.”

Se Pablo Iglesias tivesse usado essa linguagem de forma coerente, não só nas poucas semanas antes das eleições, ele teria se tornado muito popular. São declarações como essa que lhe renderam uma massa de seguidores, e não propostas keynesianas para aumentar a demanda agregada ou para flexibilização quantitativa, ou a promessa de permanecer na OTAN. Ele está correto em apontar que a classe trabalhadora espanhola está de volta e que os resultados mostram uma curva acentuada à esquerda na sociedade. Se a liderança do PODEMOS estivesse agora começando a explicar pacientemente um programa de transição para o socialismo, baseando-se na experiência precoce do Syriza na Grécia, antes de Tsipras sucumbir à Troika, eles seriam ouvidos por milhões de pessoas na Espanha e no estrangeiro e preparariam terreno para uma nova revolução espanhola num futuro próximo.