Gaza: ponto crucial na historia de Israel pós-1967

Portuguese translation of Gaza: a turning point in Israel's post-1967 history by Yossi Schwartz (July 10, 2006)

No ano passado, muitos israelenses apoiaram a retirada unilateral de Sharon da Faixa de Gaza. Para eles,  isto foi visto como um primeiro passo em direção à paz baseada num mini-estado palestino sob o controle do grupo de Abu  Mazen patrocinado  pelo imperialismo estadunidense. Dizia-se que eram "realistas e não sonhadores, diferentemente dos marxistas que argumentam não haver sob o sistema imperialista solução para a questão nacional". Contudo  seu "realismo"  é uma coisa; a realidade, porém, é uma estória bem diversa.

Junho de 2005 foi o pior mês para os palestinos da Faixa de Gaza. A remoção dos colonos judeus dez meses antes liberara as mãos dos generais israelenses que agora poderiam atirar livremente e sem qualquer risco para vida de seus colonos. De acordo com o jornal Gaza-ma o ministro da saúde palestino dr. Bassem Mao, afirmara que o número de mortes de palestinos triplicara em junho de 2006 comparado ao de junho de  2005.

O número de feridos alcançou 120% do ônus imposto aos palestinos no mesmo mês do ano anterior.

55 palestinos foram mortos, incluindo 30 assassinatos, sete mulheres e 4 funcionários do ministério da saúde.  O número de palestinos feridos no decorrer de junho foi de 159 na Faixa de Gaza e 145 no lado ocidental, sendo  46 dos feridos mulheres e 9 servidores do ministério da saúde.

O ministro palestino condenou o assédio israelense e o fechamento dos pontos de passagens, medida que provocou uma  crise humanitária. Entre as violações praticadas por Israel, ele mencionou o alvo a seis famílias em seus lares, em automóveis ou durante ida à praia. Também se referiu à deliberada humilhação de um corpo médico e de motoristas de ambulâncias enquanto  cumpriam sua obrigação transportando feridos e doentes.

Como todos sabem, a presente crise  começou no domingo 25 de junho, quando um comando palestino atacou um tanque do exército de Israel postado nos limites Israel-Gaza. Mataram dois soldados e aprisionaram o cabo Shalit. Como já referimos em artigos anteriores, tudo aconteceu a despeito do fato de que o exército já sabia por intermédio do Shin Beth, o serviço de segurança israelense, que tal ação achava-se na iminência de ocorrer. O "desconhecimento proposital" muito provavelmente demonstra que os generais buscavam uma desculpa para atacar Gaza, assim sacrificando a equipe do tanque. Os soldados foram instruídos para não responderem ao fogo e sim tentarem fugir. Dois deles foram mortos e Shalit capturado durante a "fuga".

No entanto uma coisa deve ser dita sobre os generais: eles muito provavelmente não planejaram que Shalit fosse capturado. Em sua fria visão de classe, teria sido melhor que todos os três militares morressem durante o ataque. O fato ter-lhe-ia dado a desculpa para o ataque aos palestinos sem o enfrentamento da embaraçosa eventual negociação para obter-se a libertação do soldado. De qualquer forma eles prosseguiram no agravamento de toda a situação.

No dia seguinte ao ataque ao tanque três grupos palestinos, inclusive os comitês de resistência popular, o braço armado do movimento dirigente Hamas(a) e o exercito do islã assumiram a responsabilidade pelo ação guerrilheira.

Os grupos pediram que Israel libertasse mulheres e menores de idade detidos em troca de informações sobre Shalit. Em lugar de negociações, o governo de Israel anunciou que não trataria com terroristas, e ao alvorecer da terça-feira a aviação de Israel destruiu pontes chaves na Faixa de Gaza e a única estação geradora de eletricidade do território, deixando sem energia mais de um milhão e quatrocentos mil de seus residentes.

Na quarta-feira seguinte, 28 de junho, forças terrestres israelenses penetraram no sudeste de Gaza. Ao mesmo tempo, sua aviação sobrevoou a Síria, que é refúgio de vários líderes de Hamas no exílio, expulsos que foram pelo anterior primeiro-ministro de Israel Isaac Rabin. A provocação representava uma clara ameaça à Síria, indicativa do grau que podia atingir toda a escalada belicosa!

Em 29 de junho, as forças israelenses raptaram dezenas de membros do Hamas, inclusive um terço do gabinete palestino e grande número de legisladores. No dia seguinte, 30 de junho, aviões de Israel atacaram a Faixa de Gaza inclusive o edifício do Ministério do Interior. No mesmo dia Israel revogou os direitos de residência de um ministro do Hamas e três parlamentares em Jerusalém anexado.

As ações do governo de Israel levaram muitos observadores internacionais a acusar Israel de executar ataques terroristas. Mas, naturalmente as autoridades israelenses estão negando qualquer semelhança entre estas ações e as de terroristas individuais de grupos palestinos. Podemos concordar com eles num ponto: estas ações não constituem atos terroristas individuais, pois formam uma campanha sistemática e maciça de terrorismo de estado conduzidas pelo quarto exército mais forte do mundo, principalmente contra civis desarmados: são atos comumente classificados de crimes de guerra!

Por volta de 8 de julho, generais israelenses estavam proclamando que tinham matado "40 militantes armados" em incursões dentro de Gaza. Mas quando se examina a cena mais de perto, verifica-se que é bem diferente, pois mostra que muitos mortos e feridos durante os ataques de Israel à Faixa de Gaza eram civis. Israel tem empregado tanques, tropas pesadamente armadas, aeroplanos, canhoneiras contra uma resistência levemente armada. Entre os mais mortíferos ataques da quinta-feira, conta-se uma incursão aérea sobre a pequena cidade de Bait Lahya no nordeste de Gaza que matou seis civis palestinos, de acordo com testemunhas e um corpo médico local.

Bait Lahya foi também cena de pesado ataque terrestre: combatentes de várias facções dispararam foguetes antitanques a partir de vielas em rápidas refregas com as tropas israelenses apoiadas por tanques e helicópteros. "Tanques israelenses estão nas imediações de nossa casa. Crianças choram e tremem. Estamos apanhados em fogo cruzado", afirmou uma mulher num posto radiofônico.

De acordo com um relato de Ramallah, publicado pelo jornal cubano Gramma, datado de sete de julho:

"Aviões de caça supersônicos israelenses hoje bombardearam áreas habitacionais civis no norte da Faixa de Gaza, algumas horas após o anúncio de que esta quinta-feira foi a mais sangrenta na área no decorrer da invasão até esta data.

"A magnitude do número de vítimas civis podia ser calculada observando-se os apelas dos hospitais à população em prol da doação de sangue, já escasso devido ao número de pessoas atingidas por estilhaços de mísseis.

"Não menos de 112 pessoas foram vistas ao entrarem nos hospitais, a maior parte vítimas de sérios ferimentos de acordo com as mesmas fontes, enquanto os funerais de 24 vítimas de fogo indiscriminado das tropas de Israel passavam pelas ruas.

"Outros 27 indivíduos, em sua maioria crianças, foram feridos, segundo levantamento ainda incompleto".

Uma cifra ilustra eloqüentemente a que grau esta é uma guerra contra a gente comum da Palestina: mais de 800 crianças palestinas foram mortas desde o início da intifada de Al-Aqsa em setembro de 2000!

Significativas mudanças nas táticas da resistência palestina

 

O governo israelense naturalmente culpa o Hamas, o governo eleito, por seus próprios atos de barbarismo; no entanto com a captura de Shalit eles próprios demonstraram ser mais hábeis do que o governo de Israel. Num folheto dirigido ao homem do povo israelense, o Hamas conclamou os israelenses para que pressionassem seu governo a fim de salvar a vida de Shalit cessando a luta e permutando prisioneiros.  

É um desenvolvimento muito significativo dos acontecimentos porque pela primeira vez a resistência palestina reconhece que há uma diferença entre o homem comum israelense e os círculos dirigentes.

"Qualquer nação preocupada com o bem-estar de seus cidadãos faria o mesmo", diz Ehuti Olmert, o primeiro-ministro de Israel. Quando Olmert afirma "qualquer nação" faria o mesmo, ele deve ter Bush e a guerra no Iraque em mente, onde os militares dos Estados Unidos destruíram a infraestrutura do país invadido no primeiro dia de guerra, matando muitos e muitos civis. A destruição de pontes e de duas estações geradoras de energia elétrica servindo a um milhão e quatrocentos mil pessoas deixou até mesmo os hospitais sem eletricidade e água.

Consoante o Estado de Israel, o objetivo é mais ou menos o seguinte: "Há uma enorme diferença entre nós e eles... nós somos humanos dotados de elevado código de ética e observadores da lei, enquanto os palestinos agem como animais escondidos em lugares populosos". Devemos admitir que neste caso há uma diferença real. O comando guerrilheiro palestino capturou um soldado, o cabo Gilad Shalit empenhado numa operação bélica. O governo israelense, por outro lado, tem seqüestrado dezenas de funcionários do grupo dirigente Hamas, inclusive ministros de gabinete e também matado civis em Gaza.

Os dirigentes de Israel, exatamente como sua contraparte nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, estão simplesmente recorrendo a ações de comprovado terror de estado sob a falsa alegação de combatem terroristas no Iraque ocupado, no Afeganistão e na Palestina. É este o  seu padrão moral.

O primeiro-ministro de Israel e seu cãozinho de guarda Amir Peretz têm repetidamente declarado que "Israel jamais trocará um soldado israelense por prisioneiros palestinos, pois isto encorajaria os terroristas a capturar mais israelenses".

Contudo, a maior parte dos israelenses está convicta de que este não tem sido sempre o comportamento de seus governantes. Eles se lembram do caso de Elhana Tennebaum, um funcionário de alta categoria - coronel da reserva -, traficante de droga e amigo de Ariel Sharon, que foi capturado no Líbano. Numa quinta feira, 20 de janeiro de 2004, 461 "bombas relógio" ("ticking-bomb") foram libertadas. Ademais, Israel devolveu os corpos de 59 libaneses e forneceu informações sobre o destino de 24 outros desaparecidos.

A razão para a recusa do governo de Israel em negociar para salvar a vida de Shalit nenhuma relação tem com a proteção dos israelenses. Tem tudo a ver com seu plano de derrubar o governo do Hamas e punir os palestinos por terem elegido Abbas e não o preferido de Israel, o corrupto grupo pró-Estados Unidos de Abu Mazem, o presidente que sempre tem demonstrado pronta disposição de colaborar com os dirigentes de Israel contra seu próprio povo.

Há três anos o primeiro-ministro Sharon estava propondo a Abu Mazen a libertação de prisioneiros palestinos. De acordo com a CBS/AP (06 julho de 2003):

"Israel tomou a iniciativa para satisfazer à principal exigência palestina, ao concordar com a libertação de cerca de cinco mil prisioneiros, mas o primeiro-ministro Ariel Sharon disse que seu gesto limitado estava condicionado à dissolução dos grupos militantes palestinos.

"A libertação objetivava reforçar o poder do primeiro-ministro palestino Mahamoud Abbas, que se tem proposto executar o plano de paz "mapa do roteiro" apoiado pelos Estados Unidos.

"Mas um alto funcionário palestino expressou seu desapontamento ao pretendido número de libertações. Grupos radicais, cujos membros não estão incluídos no programa de libertação imediatamente o recusaram".

"Os Estados Unidos e Israel apóiam fortemente Abbas, também conhecido por Abu Mazen, como alternativa para o líder palestino Yasser Arafat, que acreditam seja capaz de conter os grupos radicais.

Agora, ao invés de permanecer com o povo palestino sob ataque em Gaza, Mahmoud Abbas (Abu Mazen) covardemente abandonou-o e voltou para seu abrigo seguro em Ramallh após duas semanas em Gaza. Na sexta-feira, Abbas convocou uma conferência de imprensa em Gaza e conclamou todos os grupos palestinos para que libertem o soldado israelense e cessem os ataques com mísseis Qassam. Isto revela a natureza de classe dessas pessoas que vêem os imperialistas como se fossem seus amigos e salvadores na esperança de um prêmio por servi-los. Tanto mais para os reformistas e seitas esquerdistas que afirmam que as burguesias das nações oprimidas podem liderar revoluções democráticas à frente dos movimentos de libertação nacionais!

Efeito oposto

O terror do governo israelense em Gaza tem tido efeito oposto ao que se esperava. A expectativa era que suas ações desmoralizariam o povo palestino pondo-o de joelhos, ao mesmo tempo levando a população israelense à histeria nacionalista. O oposto, porém, está acontecendo.

Por quase uma semana, o pai do soldado capturado, Noam Shalit, foi tratado como herói e elogiado pelo governo. Muitos funcionários visitaram-no em várias oportunidades sob as vistas da televisão. No entanto, na segunda-feira o mesmo pai afirmou que era "desolador que o Estado de Israel tentasse restabelecer sua repressão às custas de seu filho".

Noam Shalit reportava-se a comentários do ministro Meir Sheetrit afirmando que Israel deve restaurar seu nível de contenção. O pai acrescentou que pretende encontrar-se a qualquer hora com os militantes em cujo poder acha-se seu filho.  No íntimo, à semelhança de muitas outras pessoas, deve estar a  confiança de Ron Arad.

O tenente-coronel Arad encontrava-se numa aeronave F-4 Phantom na função de navegador em missão de ataque a alvos da PLO próximos de Sidon, no Líbano, em 16 de outubro de 1986. Aparentemente uma bomba que se desprendeu da aeronave explodiu no ar causando danos de tal natureza  ao avião que Arad e o piloto foram ejetados. O piloto foi socorrido horas depois, mas Arad foi capturado pela milícia xiita libanesa Amal.

Em 1987, receberam-se cartas de Arad. O governo israelense resolveu negociar sua libertação, mas as conversações romperam-se em 1988. Diram, ex-chefe de segurança da Amal, que presumivelmente capturara o navegador israelense, e Obeid, elemento político do Hezbollah(b), foram raptados por Israel a fim de usá-los como peça de barganha para conseguir a soltura de Arad - a mesma coisa que estamos vendo agora. Nos dois primeiros anos de seu cativeiro houve sinais de que Arad estava vivo. Desde 1988, nada mais se soube de seu destino.

De acordo com a Mednews (Middle East Defense News): "Em 18 de dezembro de 1999, a televisão noticiou que negociara secretamente a compra de petróleo iraniano, como parte de esforço para persuadir Teerã a libertar Ron Arad. O vazamento da informação, originária de Washington, efetivamente interrompeu os contactos israelenses. A agência noticiosa Mednews soube que um dia antes do vazamento da informação, funcionários israelenses comunicaram ao Departamento de Estado os entendimentos com o Irã para um "desempenho seguro". O propósito era evitar o tipo de acusações surgido no início das negociações Irã-Contra." Este vazamento impediu a liberação de Arad, que tinha sido negociada pormenorizadamente com funcionários iranianos". Em 24 de janeiro de 1995, Sayed Hassan Nasrallah, dirigente do Hezbollah, publicamente afirmou que o Hezbollah acreditava estivesse Arad morto e o paradeiro de seus restos mortais fosse desconhecido.

Surgem divisões do no seu do governo israelense

Noam Shalit não é o único israelense a desejar a troca prisioneiros. De acordo com pesquisas da opinião pública, 60% dos cidadãos israelenses querem pôr um fim às incursões e negociar a soltura de Shalit com o Hamas em troca de prisioneiros palestinos.  O problema é que numa democracia burguesa, uma vez eleitos os trapaceiros que ludibriarão o povo nos próximos anos, você terá de se haver com eles, salvo se ações maciças dos trabalhadores forçá-los a renunciar.

Pela primeira fez, devido a pressões partidas de baixo, cisões surgiram no governo. Avi Dichter, até recentemente na direção dos serviços de segurança e agora ministro da Segurança Pública, veio a público com uma declaração afirmando que logo o soldado israelense seja libertado e os militantes cessem os ataques com mísseis a partir de Gaza, "então, num gesto de boa-vontade, Israel, como tem feito no passado, saberá como libertar os prisioneiros". Mas no fim da semana, Olmert comentou esta declaração, reiterando sua oposição à libertação dos prisioneiros palestinos em troca da soltura de Shalit.

À luz da forte resistência que os militares israelenses encontram no nordeste  da Faixa de Gaza, os generais israelenses compreenderam que falharam em suas pretensões. Na manhã do sábado, as forças israelenses recuaram do nordeste de Gaza, três dias após a invasão da área. À medida que as tropas partiam, o primeiro-ministro palestino Ismail Haniyeth apelou para uma cessão de fogo. De acordo com fontes mediadoras egípcias, numa declaração publicada em nome de Haniyeh, o chefe do governo liderado pelo Hamas afirmou que "a fim de se sair da crise atual todas os lados devem recobrar a calma e mutuamente cessar as operações militares... A proposta pode ter sido feita em coordenação com Khaled Meshal, o líder do Hamas em Damasco".

O primeiro-ministro Ehud Olmert afastou qualquer esperança que se tinha de um término do presente conflito e imediatamente rejeitou o chamamento pelo cessar fogo, exigindo em primeiro lugar a soltura do cabo raptado como condição para qualquer acordo de cessação das hostilidades com os palestinos.

Enquanto continuam os ataques aéreos e marítimos no nordeste de Gaza, os generais simplesmente movimentaram suas tropas para atacar pelo sudeste, onde uma mãe e duas crianças morreram na vizinhança de Sajalieh, próxima dos limites de Karni. O exército de Israel tem negado qualquer responsabilidade pelas vítimas fatais, mas confirmou o lançamento de um ataque aéreo na área, alegando que tivera como alvo um grupo de militantes armados. Se alguém acreditar em Cinderela pode acreditar nesta estória também!

Operações militares falham

No início da invasão, os generais alegaram que impediriam o lançamento de mísseis Qassam(c)  de atingir o sul de Israel. Na realidade eles não podem conseguir isto. Pelo menos 15 destes apetrechos bélicos foram disparados da Faixa de Gaza sobre Israel. Na sexta-feira, a maior parte dos mísseis caiu na área de Sderot, um, no sul de Ashkelon, e outro, a meio quilômetro da vila de Netivot, também na parte ocidental do Negev. O raio de ação do foguete  que caiu perto Netivot parece que foi de mais de 10 quilômetros.. Foi a primeira incidência de fogo do Qassam na área de Netivot.  Noutras palavras, os militares   exageram  ligeiramente o impacto desta arma primitiva

Agora os generais tiveram de admitir que não podem pôr um termo aos ataques dos mísseis Qassam por meio de operações militares que matam muitos civis. O chefe do estado israelense falando ao Haaretz afirmou: "A operação Gaza não significa que não haverá ataques com foguetes Qassam se sairmos amanhã ou depois de amanhã... Mas significa que as organizações terroristas pagarão elevado preço por cada Qassam disparado". O que os generais israelenses estão dizendo com isto é que no momento - até que uma vez mais mudem suas versões - a razão para as incursões não é para o lançamento dos foguetes Qassam sobre o sul de Israel, mas que o exército continuará  seu ataque até a soltura de Shalit o que poderia perdurar por muito e muitos dias.

A agressão israelense está perturbando a administração Bush de algum modo porque este teme a reação das massas árabes ao patente apoio dos Estados Unidos ao governo de Olmert. Isto é evidenciado pelo fato de que o secretário de defesa Donald Rumsfeld chegou a cancelar sua ida a Israel marcada para a próxima semana. Fontes do governo israelense afirmam que o cancelamento reflete o desejo de Rumsfeld  de distanciar-se do conflito em curso entre Israel e os palestinos na Faixa de Gaza.

Até mesmo Kofi Annan, o secretário geral da ONU que por muitos anos tem agido tal qual um títere de Bush, viu-se forçado a fazer uma declaração que não foi muito agradável aos dirigentes de Israel: "Estou extremamente preocupado com a perigosa situação no território palestino. Eu apelo em favor de uma ação urgente para aliviar a situação humanitária da população civil... Os ataques aéreos à única estação geradora de energia elétrica tiveram impacto de longo alcance nos hospitais de Gaza, moinhos, abastecimento de água e serviços sanitários".

A declaração pode leva-los a refletir sobre o que aconteceu a entes queridos durante o Apartheid na África do Sul. Não tivesse sido pelos reformistas que salvaram o sistema capitalista, a classe trabalhadora da África do Sul poderia ter tomado o poder e derrubado não apenas o sistema Apartheid mas o próprio capitalismo e construído um estado de trabalhadores.

As ações criminosas ora postas em prática pelos militares israelenses em Gaza servem somente para isolar sua própria classe. O que está se revelando em Gaza equivale a um momento decisivo na história de Israel desde 1967 e um reflexo do crescimento da crise orgânica do imperialismo mundial. Esta crise política mostrará o caminho para a luta de classes em Israel. A opinião pública israelense já se coloca contra o governo de Olmert. Não se pode enganar o povo todo o tempo. A polarização a que estamos assistindo repetidamente em Israel nos anos recentes ressurge em torno desta questão.

Por muitos anos, nós marxistas colocamo-nos contra todas as seitas de esquerda que repetiam, à semelhança de papagaios, a idéia de que todos os israelenses constituem um único corpo reacionário. É uma idéia que convém à classe dominante de Israel. Elas, as seitas esquerdistas, desejam englobar o povo de Israel como um todo único, sob a denominação de Sionismo. Na realidade, Israel é uma sociedade de classes como qualquer outra, onde os interesses dos trabalhadores, dos pobres e das classes médias em declínio se opõem aos da classe dirigente e seus serviçais.

Temos de compreender que enquanto a classe dominante israelense permanecer no poder não teremos paz entre os povos israelense e palestino. A real e duradoura solução somente poderá ser estabelecida pela classe trabalhadora. Devemos dizer não à guerra de nação contra nação e criar as perspectivas de guerra de classe contra classe.

Tradução de Odon Porto de Almeida

N. do tradutor (a) Acrônimo da expressão muçulmana  Harakat al-Muqawama al-Islamiyya. Ramo palestino da organização Irmãos Muçulmanos, o Hamas foi fundado em 14 de dezembro de 1987 na Faixa de Gaza, como força de autodefesa ou de resistência em face das constantes agressões de Israel. Calculou-se em 2001 que contava com o respaldo de 25% da dos palestinos. É plausível que tal apoio tenha aumentado nos últimos anos. (b) Na França adotam-se várias grafias para o mesmo movimento, aqui e acolá encontradas em nossa imprensa: Hizbollah, Hizballah, Hizb´Allah. "Partido de Deus" em árabe. Na verdade é um movimento xiita libanês oficialmente constituído em fevereiro de 1985. Sua origem, porém, remonta aos início dos anos 1980s. É influenciado por correntes internas de tendências diversas, às vezes responsáveis por lutas intestinas. De 1982 a 1988, desencadeou várias jihads, ou guerras santas, contra Israel e potências ocidentais ocupantes de áreas do Líbano. É um agrupamento robusto, destemido e aguerrido, recorrendo a táticas de guerrilhas contra o exército de Israel. (c) Acrônimo dos termos árabes Quwat al islamiyya al mujahida, que quer dizer "força islâmica combatente". Especificamente, designa um foguete simples, ou seja, uma carcaça de aço cheia de explosivos. Foi desenvolvido pelo amasHamasHHamas.