George W. Bush e as Cruzadas

Portuguese translation of George W. Bush and the Crusades by Alan Woods (May 8, 2003)

Às vésperas da guerra do Iraque, George W. Bush falou de uma "cruzada". Obviamente ele estava mais do que satisfeito consigo mesmo por ter pensado em tal palavra de efeito. Mas foi rapidamente silenciado pelos assessores, que lhe ponderaram ter a palavra "cruzada", para o mundo muçulmano, infelizes conotações. Após o reparo, o termo prontamente saiu de seu vocabulário.

A razão por que a palavra "cruzada" tem tais associações negativas no Oriente geralmente não é apreciada, porque muito poucas pessoas se deram ao trabalho de estudar as cruzadas. Para a maioria, inclusive os atuais ocupantes da Casa Branca, são lembranças vagas de retalhos de filmes, onde elas são apresentadas sob uma luz fascinante e romântica, demonstrando a mais alta expressão do cavalheirismo cristão. A realidade é bem diferente, porém.

O que foram cruzadas

A Idade Média, como Marx assinalou, foi acompanhada por uma "brutal exibição de vigor". A arte da guerra foi transformada pelo desenvolvimento da cavalaria pesadamente armada, tornando-a capaz de investidas devastadoras no campo de batalha. Eis aí a real origem da palavra "chivalry", que significa simplesmente cavalaria. Tudo isto foi produto de uma sociedade belicosa na qual a luta era a principal atividade da aristocracia. A violência constituía o ingrediente essencial daquele mundo. A nobreza feudal tinha dois alvos na vida - ser uma boa combatente e gerar uma batelada de filhos. Na essência, estas metas coincidiam com as de um reprodutor, e seu nível de inteligência freqüentemente não era muito maior.

Todavia, nenhuma classe dirigente gosta de ser lembrada através de suas atividades criminosas, mas, preferivelmente, deseja que a posteridade a julgue pelo que ela pensa de si mesma. Daí a razão por que ela tece elaborada mitologia sobre seu inato senso de honra e justiça - a essência do cavalheirismo. Com efeito, na realidade estes atributos tinham exatamente propósitos decorativos. A face brutal da Europa cristã foi vista em suas aventuras sanguinolentas conhecidas como cruzadas - terríveis guerras entre a Europa e o Islã, continuadas por 100 anos.

Em 1076, os turcos seldjuquidas conquistaram Jerusalém. Isto constituiu um severo choque para a Igreja, que, no século 11, dominava a sociedade européia em todos os níveis. Em cada cidade, a igreja era o maior edificação, com seus quadros de inferno e condenação. Os verdadeiros fiéis que aceitavam o mensagem da igreja iriam para o céu, mas os infiéis seriam lançados nas profundezas do inferno para sofrerem tormentos eternos nas mãos de demônios. Era a representação do mundo em que homens e mulheres acreditavam fervorosamente.

Em 1095, o papa Urbano II instigou uma multidão de milhares para que abandonassem tudo e fossem libertar Jerusalém dos "infiéis". Em compensação, foi-lhes prometida a salvação na vida próxima. Uma massa de gente comum respondeu ao chamamento e reuniu-se sob o estandarte da primeira cruzada, inspirada pela visão da Nova Jerusalém. Seu grito de batalha ressoou por todas as praças de cidades a vilas: "Deus lo volt!" - "Deus o quer!" A Igreja excitou o fanatismo religioso alegando que os lugares santos corriam perigo. Era completa inverdade.

Os lugares que eram santos para os cristãos o eram também para os muçulmanos, que os tinham ocupado desde 638. Diferentemente dos cristãos que eram, de forma absoluta, intolerantes em relação a outros credos religiosos, os muçulmanos geralmente toleravam os cristãos e outros crenças, conquanto pagassem suas taxas e não perturbassem. Maomé, é verdade, afirmou: "Quando encontrares infiéis, corta-lhes as cabeças" - mas o mesmo Maomé também ordenou: "Tratai calmamente os infiéis, deixai-os por algum tempo em paz." Ele estava se referindo aos cristãos, que ele via como o "povo do Livro" e por esta razão "os mais próximos em afeição aos fiéis". Foi a agressão não provocada e violenta dos cristãos europeus que provocou a reação dos muçulmanos.

O fanatismo religioso desempenhou um papel central nos sangrentos conflitos entre a Europa e o mundo muçulmano. Existiam, todavia, mais considerações mundanas, tais como as perspectivas de saques e pilhagens. Nem eram os propósitos daqueles que organizaram a aventura um caráter exclusivamente sagrado. Os cavaleiros cristãos, como sempre, necessitavam de uma desculpa para assassinar gente, e se esses atos garantissem a redenção para seus múltiplos pecados, tanto melhor. A Igreja geralmente sentia-se feliz em ver as costas destes desregrados elementos. Por acréscimo, os cruzados enfatizavam consideravelmente o próprio prestígio e autoridade.

Os mercadores estavam até mesmo mais interessados nestas aventuras. Os turcos agora controlavam as lucrativas rotas comerciais para o Oriente, a exemplo da famosa estrada da seda. A maior parte dos mercadores de Veneza, de Gênova e de outros portos europeus era completamente reclusa, e precisava apossar-se de uma parcela de suas atividades. As cruzadas representavam sua melhor chance de conseguir este objetivo, ainda mais sob o estandarte do Altíssimo. Era uma oportunidade que não se devia perder.

Quanto à turba de todas as cidades e aldeias que se reunia sob o estandarte das cruzadas, o ajuntamento proporcionava-lhe a oportunidade de escapar do trabalho servil feudal e ver o mundo. Toda a espécie de elemento criminoso era atraída pela promessa de saques, assassinatos e estupros. Era-lhes dito pela Igreja que a persistência em suas atividades habituais podia efetivamente salvar-lhes a alma - considerável recompensa, quando tudo que se diz é feito - contanto que as vítimas fossem infiéis.

Nas palavras de São Bernardo - figura chave na instituição das ordens a um só tempo religiosas e militares - matar por Cristo era um malecídio e não homicídio, o extermínio da injustiça, em vez de injusto é por isso desejável. De fato, "matar um pagão é ganhar a glória, pois o ato glorifica a Cristo." Os cruzados seguiram-no ao pé da letra. Com efeito alguns dos cruzados nem se importavam muito com a religião daqueles que eles atacavam, segundo acentuava Desmond Seward.

"Muitos francos foram recrutados pelas cruzadas como penitência pelas atrocidades por eles cometidas, inclusive estupros e assassinatos e reverteram a seus desagradáveis hábitos.. Os peregrinos eram uma presa natural, embora um dos principais objetivos das cruzadas tenha sido tornar os lugares sagrados seguros para eles," (D. Seward, The Monks of War, p. 33).

Os cruzadas e os judeus

A primeira cruzada - à semelhança das que se seguiram - apresenta um quadro pecaminoso de matanças indiscriminadas, estupros e pilhagens. Os cruzados deixaram por toda parte um rastro de destruição e caos em seu caminho como se fossem um exército de gafanhotos vorazes devorando o solo por onde passassem. Sua especialidade particular eram os pogroms contra os judeus, e eles geralmente poupavam muito poucos daqueles que estivessem em seu caminho. Alguns dos comentários dos cruzados a respeito dos judeus foram preservados, e servem como revelação de sua mentalidade.

"Nós nos pomos a palmilhar um longo caminho para combater os inimigos de Deus no Oriente, e eis que, diante de nossos próprios olhos surgem seus piores inimigos, os judeus. Com eles, devemos nos haver em primeiro lugar." E novamente: "Vocês são os descendentes daqueles que mataram e enforcaram nosso Deus. Alem disto, o próprio Deus enunciou: "O dia mal terá nascido quando meus filhos virão e vingarão meu sangue". Nós somos seus filhos e cabe-nos a tarefa de executar a vingança sobre vocês, pois vos revelastes blasfemos e obstinados perante ele...(Deus) vos abandonou e voltou seus esplendor sobre nós e tornou-nos dignos dele," (N. Cohn, The Pursuit of the Millenium, p. 70).

As populações das cidades mercantis do Reno e do Mosela estavam sob a proteção do imperador e dos bispos, mas isto não salvou muitos dos persegjidos, como revela o seguinte relato:

"No começo de maio do ano 1096, os cruzados das cercanias de Speyer planejaram atacar os judeus durante a comemoração do Sábado (Sabbat) em sua sinagoga. Nisto eles foram frustrados e mataram apenas doze judeus nas ruas. O bispo abrigou o restante em seu castelo e fez punir alguns dos assassinos. Em Worms, os judeus foram menos afortunados. Aqui, voltaram-se também para o bispo e os ricaços burgueses em busca de socorro, mas estes foram incapazes de protegê-los quando chegaram componentes da cruzada popular e lideraram a gente da cidade num ataque ao quarteirão judeu. Saquearam a sinagoga e mataram todos os seus ocupantes adultos que recusaram o batismo. No respeitante às crianças, algumas foram mortas, outras levadas para receberem o batismo e serem criadas como cristãs. Uns poucos judeus abrigaram-se no castelo episcopal e quando este foi também atacado o bispo ofereceu-se para batizá-los e assim salvar-lhes as vidas; no entanto, toda a comunidade preferiu suicidar-se. Ao todo, afirma-se que cerca de oito mil judeus pereceram em Worms," (N. Cohn, The Pursuit of the Millennium, p. 69).

Cenas similares repetiram-se em Verdun, Treves, Mainz, Trier, Colônia, Metz e noutras cidades. Judeus desesperados atiravam seus bens, suas famílias e a si próprios nas chamas ou nos rios para escaparem da fúria do populacho. Os judeus de Colônia esconderam-se nas aldeias circunvizinhas, mas foram descobertos pelos cruzados e massacrados às centenas. Todos os judeus de Metz foram mortos. Ao todo, vários milhares pereceram.

Isto representou uma amostra que era repetido no início de todas as outras cruzadas. Em cada caso, as cruzadas representavam o sinal para o massacre de judeus.

Os cruzados em Jerusalém

Mas todas estas atrocidades contra os judeus empalideciam na insignificância quando comparadas ao que aconteceria finalmente quando os cruzados adentraram Jerusalém em julho de 1099. O terrível capítulo representa uma mancha na história humana. O fato apavorou todo o mundo islâmico e para sempre ficou gravado em sua memória. Incitados por ânsia sanguinolenta e assassina, os cruzados empreenderam uma orgia de matanças que não poupava nem mulheres nem crianças. A maior parte da população urbana - aproximadamente 70.000 almas - foi chacinada num holocausto que assolou por três dias. Cruzados devotos choravam ao orarem, descalços, no Santo Sepulcro, antes de retornarem à matança. "Nossos homens", escreveu um cronista cristão, "seguiram (o povo que fugia) perseguindo-o até o templo de Salomão e chapinharam à altura dos tornozelos em sangue muçulmano."

O celebrado historiador inglês Edward Gibbon escreve: "Na pilhagem de bens públicos e privados, os aventureiros tinham aquiescido em respeitar a propriedade exclusiva do primeiro ocupante, e os espólios da mesquita principal, setenta lampiões e vasos de ouro e prata maciços premiavam a diligência, e manifestavam a generosidade de Tancredo. Um sacrifício de sangue foi ofertado pelos enganados devotos do Deus dos Cristãos: a resistência podia provocar, mas nem a idade nem o sexo podiam atenuar seu implacável furor; eles se entregaram por três dias a um massacre promiscuo, e a infecção dos cadáveres produziu uma epidemia. Após passarem à espada setenta mil muçulmanos e os inofensivos judeus queimados em sua sinagoga, eles podiam ainda reservar uma multidão de cativos a quem o interesse e a fadiga persuadiram-lhes poupar," (E. Gibbon, The Decline and Fall of the Roman Empire, voil. 6, p. 84).

A selvageria dos cruzados contra os "infiéis" excedeu todos os limites naturais. No decorrer de um sítio eles assaram prisioneiros muçulmanos, inclusive crianças, em espetos e devoraram-nos. Tais estórias têm-se narrado freqüentemente em tempo de guerra com o propósito de enlamear o nome dos inimigos. Acontece, no entanto, que esta é verdadeira. E o papa de Roma abençoou esta carnificina de inocentes e concedeu pleno perdão àqueles que a perpetraram.

As ordens de cavalaria

Movimento impulsionado pelo fanatismo religioso, não obstante tinha um fundamento econômico definido. O rápido crescimento da população na Europa, significava que havia vasta filharada mais jovem da nobreza sem terra em todos os paises. Estes comandaram exércitos de assassinos e ladrões sob o estandarte da cruz. As intenções reais dos novos cruzados evidenciam-se no fato de que eles imediatamente voltavam suas atenções não para os lugares onde se situavam os lugares sagrados, mas para o norte por onde passava a estrada da seda.

Os invasores revelavam seus verdadeiros objetivos pelo fato de os cavaleiros construírem uma rede de portos comerciais nas cidades conquistadas - Antioquia, Trípoli etc. Mesmo Jerusalém tornou-se importante centro comercial. Na Bíblia, Jesus Cristo expulsou os cambistas do templo de Jerusalém, no entanto os cruzados cristãos logo restabeleceram agiotagem. As terras conquistadas instantaneamente tornaram-se um imã irresistível para todas os tipos de aventureiros dos bairros miseráveis e das prisões europeus. Partiram não com a finalidade de semear a palavra do Senhor, mas para tomar as terras pertencentes aos muçulmanos.

"Os 'francos' depositaram sua confiança na força marítima e nas fortalezas. As frotas genovesas, pisanas e venezianas cedo dominaram os mares, ávidas do atrativo comércio das especiarias, do arroz e do açúcar de cana, das plumas de avestruz provindas da África e das peles russas, dos tapetes persas, de metais incrustados de Damasco, das sedas e musselinas de Mossul. E outros incontáveis artigos de luxo atraiam os mercadores que se estabeleciam nas pequenas cidades costeiras," (D. Seward, The Monks of War, p. 30).

Aqui construíram uma fiada de fortalezas, a cargo de templários e hospitalários. Eram estas organizações de religiosos fanáticos, que juravam defender a fé cristã ate a morte. Formavam um misto de monasticismo e militarismo, combinando disciplina estrita e austeridade monacal com a mentalidade belicosa de barões ladrões.

As ordens militares, como os templários e hospitalários, foram fundadas no século 12. Com sua terrificante mistura de fanatismo e brutalidade religiosos, formavam as tropas de assalto da Igreja Católica na Idade Média. O papa cumulou-as de excessivos privilégios, inclusive a isenção do pagamento de dízimo. Elas acabaram por constituir uma igreja dentro da igreja, um estado dentro do estado. Ao fim, tiveram de ser reprimidas, e o último grão-mestre templário foi queimado vivo a fogo lento por heresia.

As atividades destas ordens militares foram caracterizadas por violenta agressão e extrema selvageria, a ponto de exterminarem povos inteiros. Assim, os antigos prussianos (originariamente borussos), povo eslavo vivendo às margens do Báltico, foram exterminados pela ordem teutônica para que regiões fossem despovoadas e colonizadas pelos germânicos - exemplo prematuro da política que Hitler descrevia como a busca do "Lebensraum" (espaço vital). Estes também consideravam-se cruzados. As terríveis campanhas nas florestas da ordem teutônica contra os lituanos têm sido descritas como as guerras mais ferozes da Idade Média. Eisenstein, o grande diretor cinematográfico soviético,adotuou o tema de sua obra-prima Alexander Nevsky da sangrenta derrota dos cavaleiros teutônicos na batalha no gelo do lago Peipus em 1242.

Comenta Desmond Seward: "Em teoria, (as ordens) representavam uma proteção contra os infiéis. Na prática, foram impiedosos agressores. A deliberada liquidação dos prussianos pela ordem teutônica é um testemunho suficiente Conforme um cronista e capelão orgulhosamente registrou 'eles empurram-nos de modo que nenhum permanecesse, salvo se dobrassem a cerviz ao jugo da Fé - isto com a ajuda do Senhor Jesus Cristo que é santificado para todo o sempre'," (D. Seward, The Monks of War, p. 21).

Interesses econômicos

Como a história se repete! George W. Bush e seu bando de neo-conservadores religiosos e fanáticos da direita republicana poderiam expressar sentimentos similares. Mas, exatamente tal e qual acontece no século 21, a verborragia religiosa encobre muito dos reais interesses materiais, da mesma forma que na Idade Média. Os motivos dos cruzados - inclusive das ordens - não eram tão puros quanto alguém pode imaginar. O estonteante vinho do fanatismo religioso estava misturado com uma razoável quantidade de interesse econômico próprio. Por exemplo, os templários tornaram-se prósperos banqueiros, antecipando-se às grandes casas bancárias italianas na fase avançada da Idade Média.

"Os templários transformaram-se em banqueiros profissionais, todo o dinheiro coletado para a Terra Santa, era transferido por eles de seus preceptores europeus para o templo de Jerusalém, enquanto peregrinos e mesmo mercadores maometanos depositavam seus encaixes no templo local. Os irmãos necessitavam de dinheiro para aquisição de armas e equipamentos, para a construção de fortalezas, para o aluguel de mercenários e para subornarem inimigos, de forma que não se permitisse que fundos guardados em caixas-fortes permanecessem ociosos; a restrição da Igreja à usura era contornada pela adição de juros à soma devida por retribuição, e especialistas árabes eram contratados para transações nos mercados cambiários de Bagdá e do Cairo enquanto se instituía um excelente serviço de letras de câmbio,"(D. Seward, op. cit., p.50).

Eles também realizavam operações comerciais e de turismo: "Tanto os templários quanto os hospitalários achavam mais econômico transportar tropas em seus próprios navios, e passagens estavam |à disposição dos peregrinos; em certa época os templários transportaram 6.000 peregrinos por ano. Suas embarcações eram bem aceitas, pois eles mantinham uma flotilha de escolta e confiava-se que não venderiam seus passageiros como escravos nos portos muçulmanos, segundo fizeram certos mercadores italianos. Era comum usar espaço vazios para mercadorias, e assim exportavam especiarias, seda, anilinas, porcelana e vidros, aproveitando ao máximo as isenções de taxas alfandegárias, e cedo rivalizaram com os mercadores levantinos que com eles transacionavam", (ibid).

As ordens, originariamente movidas por fanatismo religioso, mais tarde assumiram interesses materiais muito mais concretos. Tinham acesso a riquezas colossais provenientes da pilhagem, formando realmente a primeira colônia européia. E os senhores coloniais viviam como reis.

"Muitos senhores preferiam retirar-se para algumas luxuosas vilas litorâneas, ao passo que seus confrades dispunham de dinheiro e homens para administrar as vastas fortalezas sírias e também para solucionar problemas maçantes, tais como encontrar maridos para herdeiras ou prover guardas para custódias. .Doações e recrutas choviam da Europa num fluxo constante," (ibid ., p. 49).

Os "monges de guerra" defendiam seus interesses por meio de uma máquina de combate formidável, chefiada por hábeis comandantes. Suas crenças religiosas não evitavam que praticassem massacres de infiéis aonde quer que fossem. Mais exatamente, viam estes abusos como um dever religioso. Mas, através de sua crueldade, eles conseguiam unir todos os árabes contra si.. A grande tarefa foi concluída por um dos mais notáveis comandantes militares na historia do Oriente Médio, Salah ad-Din Yusif ibn Ayub, melhor conhecido por Saladino.

Saladino

Em surpreendente contraste com os bandidos cristãos, autêntico cavalheirismo foi notado entre os "infiéis" sarracenos a exemplo do líder muçulmano Saladino. Era um guerreiro nato, sem rival em seu conhecimento das artes de guerra em seu tempo. Ademais, era bravo, leal e generoso. Nascido curdo, quando os curdos eram olhados de esguelha pelos árabes, ele subiu hierarquicamente por seus próprios méritos e tornou-se um dos guardas de maior confiança do sultão. Saladino tanto sabia capturar uma cidade como também mantê-la sob seu domínio.

Quando Nur-al-Din morreu, Shirkuh, general curdo, o sucedeu. Mas o último logo faleceu, aparentemente por edacidade, e seu lugar foi ocupado pelo sobrinho, Saladino, que se tornou vizir. Este homem notável era místico e asceta, jejuava e dormia sobre um capacho espesso; dava esmolas incessantemente aos pobres. Sua mente inquiridora decidiu que havia muita bondade no Cristianismo, e granjeou respeito até mesmo de seus inimigos cruzados.

Num grande feito, Saladino uniu todos os árabes num estado - grande realização - e criou a mais formidável força combatente do mundo. Tornou-se rei do Egito e da Síria em 1176, com as bênçãos do califa de Bagdá. Organizou uma jihad contra os invasores e demonstrou ser um brilhante tático, forçando os francos a lutarem segundo nas condições que lhes impunha, à hora e no lugar de sua escolha.

Em completo contraste, o caráter moral dos dirigentes francos pode ser visto pela conduta de um homem chamado Reynault. Verdadeiro cavaleiro cristão, torturou um sacerdote até a morte, infligindo-lhe numerosos cortes na cabeça, em seguida untando-o de mel e deixando o resto aos insetos. Este bandido foi derrotado por Saladino que recorreu a táticas guerrilheiras em famosa batalha travada em julho de 1187. Os francos, atraídos ao deserto, onde, atormentados pelo calor e sob o fatigante peso de suas armaduras, foram então fustigados pelos arqueiros de Saladino, que fizeram cair sobre eles uma chuva de setas. As tropas de Saladino então desapareceram, evitando uma batalha frontal.

Os francos não tinham água e se exauriram. Os comandados de Saladino atearam fogo ao capinzal seco, o que originou espessas nuvens de fumaça sufocante. Com o terrificante soar de tambores e flautas em acréscimo à pressão psicológica, os sarracenos primeiro flecharam através das nuvens de fumo para matarem os cavalos do inimigo, depois investiram. Os cruzados sofreram derrota. Depois da batalha havia tantos escravos que se podia comprar um deles por um par de sapatos. Saladino separou os soldados ordinários dos templários - todos os últimos foram passados a fio de espada sem misericórdia.

A batalha de Hattin marcou efetivamente o fim do domínio dos cruzados. As forças de Saladino cercaram Jerusalém e capturaram-na. Mas diferentemente dos Cruzados, que massacraram todos os muçulmanos e judeus que encontraram quando tomaram a cidade, ele se revelou magnânimo na vitória, proibindo que seus homens se vingassem ou matassem. Nenhuma igreja foi destruída. Saladino pessoalmente participou da limpeza da mesquita que os cristãos haviam profanado e estava em condições precárias. Aos derrotados ofereceu-se a oportunidade de pagarem resgate e ficarem livres. Aqueles que não podiam pagar o resgate foram vendidos como escravos, mas pelo menos não foram mortos.

Ricardo e Saladino

A Europa estarrecia-se. Diz-se que o papa ao ouvir as notícias morrera de um choque. Mas Saladino cometeu um erro. Permitiu que a cidade de Tiro subsistisse sob domínio dos cruzados e isto possibilitou aos cristãos receberem reforços pelo mar e preservarem uma cabeça-de-ponte. Acre foi cercada e toda a Europa mobilizou-se para a guerra contra os árabes na terceira cruzada. Frederico Barba-Roxa, imperador dos romanos como se intitulava, organizou o primeiro exército, no entanto afogou-se ao largo da Sicília. Logo foi seguido por outros, inclusive o de Ricardo I, da Inglaterra, conhecido na história pelo cognome de "Coeur de Leon". O fato lembra-nos o que afirmou Trotsky sobre o general czarista Kornilov - "o coração de leão e o cérebro de carneiro". Provavelmente Ricardo fosse um tipo semelhante.

A exemplo de muitos de seus contemporâneos, Ricardo "empunhou a cruz" e partiu para a Terra Santa - a cerca de 2.500 milhas de sua pátria - com a finalidade de difundir a mensagem do Cristianismo com fogo e espada. Ele era sem dúvida um bom soldado, disciplinado e bravo. Seus exércitos eram financiados pela venda de ducados e outras possessões. Reputavam-se como a força mais disciplinada da Europa. Seus cavaleiros dotados de pesadas armaduras eram capazes de investidas mortíferas. A besta constituía um novo acréscimo mortífero a seu arsenal. De efeito, era uma arma de tal forma cruel que o papa a banira - exceto, naturalmente se empregada para matar "infiéis".

Afirmava-se ser o mais profissional exército a tomar o rumo de Jerusalém. A diferença é que viajava de navio - meio de transporte que o poviléu não tinha condições de aprovisionar e por este motivo havia em seu seio consideravelmente menos vivandeiras indesejáveis. Contudo, à semelhança de todos os exércitos medievais, esta força era motivada pela cupidez da pilhagem e do dinheiro. Mais uma vez, os cruzados conduziram-se tumultuosamente em Lisboa, incendiando, matando e estuprando. O mesmo desempenho foi repetido em Marselha, na Sicília e em Chipre. Provavelmente praticavam e assumiam o comportamento que julgavam correto para o massacre de muçulmanos ao chegarem à Terra Santa.

Era o entrechoque entre duas civilizações - se podemos considerar a Europa medieval merecedora do título de civilizada. Saladino, personagem justa e magnânima, admirava os francos (como todos os cruzados eram conhecidos entre os árabes) pela bravura, mas efetivamente os via como bárbaros e animalescos. Não estava muito enganado. De fato, a Europa cristã à época era a orla mais atrasada e bárbara do mundo civilizado, e nem um pouco qualificada para sua inclusão nele. Por outro lado, a civilização islâmica estava em seu auge.

Os árabes situavam-se cultural, cientifica e intelectualmente e, de muitas formas, militarmente, num plano mais elevado que a Europa. Por exemplo, os europeus maravilharam-se da metalurgia capaz de produzir as espadas sarracenas. Eram feitas de um aço melhor, mais duro e afiado do que qualquer coisa que a Europa podia produzir. Nada havia na Europa comparável aos centros de saber de Toledo, Granada e Córdoba. Eles foram destruídos, juntamente com o sistema de irrigação, pela Reconquista espanhola que impôs ao sul da Espanha um atraso de séculos.

Em 1191, as hordas bárbaras da Europa chegaram às muralhas de Acre. Elas dependiam do peso e da mera força bruta para ganhar batalhas. A princípio as forças de Ricardo levaram de roldão tudo que encontravam pela frente. Acre caiu após um assédio de onze meses. Aprisionaram três mil muçulmanos. Quando Saladino não os resgatou com suficiente entusiasmo, foram decapitados - homens, mulheres e crianças. A carnificina durou todo o dia até que o último estivesse morto. Saladino tentou empreender uma operação de resgate mas falhou. Os muçulmanos horrorizaram-se diante da injustificada crueldade, estranha à sua cultura e prática militar.

Saladino recorria à inteligência e a táticas guerrilheiras, mais adequadas a sua cavalaria ligeira. Seu método era evitar batalha campal ao mesmo tempo que fustigava o inimigo através de escaramuças, emboscadas e flechadas. Na batalha de Arsuf, cristãos e islamitas engalfinharam-se numa luta mortal. Os cavaleiros cristãos agora dispunham de nova arma - cavalaria pesada que vencia tudo por meio de investidas aterradoras. A cavalaria ligeira de Saladino não era páreo para estes monstros fortemente armados. Sua cavalaria ligeira atacou os cruzados repetidamente, mas a linha de infantaria de Ricardo manteve-se firme. Então, no momento exato em que a linha começou a romper-se, ele lançou carga total. O efeito foi devastador. Não obstante, os árabes conseguiram reagrupar-se e contra-atacar, mas os cruzados ainda mantiveram-se firme e por sua vez atacaram. Saladino foi batido, mas foi capaz de retirar-se em ordem.

A despeito do contratempo, Saladino atacou Jaffa e quase que a tomou. O pormenor seguinte revela o caráter cavalheiresco e generoso de Saladino. Quando Ricardo perdeu seu cavalo durante a batalha, Saladino mandou-lhe um alfaraz, possibilitando-lhe continuar lutando. No final, Saladino foi forçado a retirar-se e a assinar um tratado de paz. Ricardo ficou na posse de uma faixa de cem milhas da costa do Acre até Jaffa. Mas, de fato, Saladino alcançara seu principal objetivo: Jerusalém estava salva.

Ricardo foi mais bem tratado por Saladino do que seria por seus companheiros cristãos. Por ocasião de sua volta da Terra Santa, foi aprisionado por Leopoldo da Áustria e mantido a resgate por 15 meses. O evento comprova o velho ditado que afirma não haver honra entre ladrões. Efetivamente, ele retornou à Inglaterra após o pagamento de 15.000 marcos - enorme soma que equivalia a um quarto das receitas de seus súditos. Isto quase arruinou a Inglaterra, porém seus leais súditos nada obtiveram em troca de seu dinheiro, pois ele foi morto em 1199 por um golpe de besta. Como um bom franco, ele ordenou que seu corpo fosse dividido, suas entranhas indo para Poitou, o coração para Rouen, o corpo para Roma e nada permanecesse na Inglaterra. Quanto a Saladino, ele desejou ir para Meca, mas antes que o conseguisse, contraiu febre e morreu. Seu corpo foi sepultado numa tumba em Damasco.

O saque de Constantinopla

Trilhar toda a história das cruzadas seria um empreendimento longo e tedioso. Essencialmente, repetir-se-ia o mesmo quadro deplorável todas as vezes. Não muita coisa pode-se aprender do relato. Mas há um episódio que não deve ser desprezado. O propósito integral das cruzadas supunha-se fosse a defesa do Cristianismo da ameaça muçulmana. Especificamente, presumia-se que a Igreja Ocidental acorresse em ajuda do Império Bizantino, então duramente pressionado pelos turcos seldjuquidas. Mas quando os cruzados da quarta cruzada da chegaram efetivamente em Constantinopla comportaram-se como conquistadores e não salvadores.

Estávamos no período de formação do capitalismo na Itália, no qual Veneza, a grande potência mercantil do Mediterrâneo ocidental, desempenhou um papel dirigente. Os príncipes mercadores venezianos posicionavam-se num processo de deslocamento de Bizâncio na qualidade de maior potência no Leste, aproveitando-se do avanço dos turcos e das contendas intestinas que dividiam Constantinopla e minavam sua resistência. Quando o papa Inocêncio III organizou a quarta cruzada em 1204, os venezianos aproveitaram a oportunidade.

Enrico Dandolo, cego porém astuto doge de Veneza, persuadiu os cruzados a participarem de uma intriga para instalarem o pretendente Aleixo Ângelo no trono de Constantinopla. Aleixo era de tal forma atoleimado a ponto de fazer aos cruzados promessas extravagantes, que não tinha condições de cumprir. A avareza dos cruzados era excitada à vista da colossal riqueza de Constantinopla - cidade cristã, embora de fé ortodoxa e não católica.

Em 12 de abril os cruzados assaltaram Constantinopla. Durante três dias pilharam-na, causando terrível devastação. Até mesmo sacerdotes entregaram-se à orgia de saques, de assassinatos e de destruições que culminaram na dessacralização da Hagia Sophia (Santa Sofia) - a maior igreja da cristandade - onde uma prostituta bêbeda sentou no trono do patriarca. Em seguida, os conquistadores elegeram um imperador francês e um patriarca veneziano, improvisaram baronias e ducados para eles próprios. Isto era mais fácil do que combater os sarracenos! Assim, os exércitos mais cristãos da Europa destruíram a terceira Roma. Bizâncio, realmente nunca se recuperou do terrível golpe, muito embora tenha tido êxito, no final, ao expulsar os bárbaros cruzados. Por fim, caiu sob o poder dos turcos otomanos em 1453.

O papa de Roma desempenhou um papel ignominioso e hipócrita em tudo isso. Por um lado, protestou contra os horrores e exclamou que não podia culpar os gregos (de Constantinopla) por odiarem os latinos que sabia serem cães traidores. Mas, de outra forma não levantou um dedo sequer para reempossar o legítimo patriarca, porém em seu lugar confirmou o usurpador latino e pseudo-imperador. A Igreja Ortodoxa foi perseguida e seus monges expulsos de seus monastérios transformando-se estes em aposentos para os cistercienses e suas ordens militares.

O rapto de Constantinopla revela-nos tudo de que necessitamos para conhecer o conteúdo religioso das gloriosas cruzadas. Uma cruzada ainda mais cruel e sanguinolenta foi empreendida contra os cristãos do sul da França, na cruzada albigense contra os Cátaros, a qual. destruiu a florescente cultura provençal, uma luz reluzente na escuridão da Europa medieval. Os mesmos métodos que tinham sido aperfeiçoados no Oriente Médio foram usados aqui, e mais tarde, contra a grande civilização islâmica do sul da Espanha, destruída pela Reconquista cristã.

Os cruzados de George W. Bush

As cruzadas da Idade Média situam-se entre as páginas mais negras da história humana. Não há uma só palavra positiva que se possa dizer a seu respeito. Não, isto é, a menos que se nomeie George W. Bush. Naturalmente, o presidente dos Estados Unidos efetivamente conhece muito pouco da autêntica história das cruzadas, da mesma forma que sabe muito pouco de história em geral, ou qualquer outra coisa no que diz respeito ao assunto.

Vivemos na primeira década do século 21. De muitas maneiras, é um período muito excitante da história da humanidade. A ciência e a tecnologia avançaram a alturas inauditas. Muitos dos mais importantes avanços realizaram-se nos Estados Unidos. E todavia, noutros aspectos, a consciência humana retarda muito em relação aos progressos das forças produtivas, da ciência e da técnica.

Nos Estados Unidos de hoje a maior parte das pessoas acreditam em Deus e que o diabo existe. Milhões estão convencidos de que o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis e o restante da Bíblia são literalmente verdadeiros. Exigem que se ensine nas escolas americanas que Deus criou o mundo em seis dias, e que a primeira mulher foi feita de uma costela de Adão. O primeiro americano ao dar uma volta em torno da terra numa espaçonave, quando solicitado a dirigir uma mensagem aos povos do mundo, de toda a literatura mundial escolheu o livro do Gênesis.

A contradição entre o colossal avanço da ciência e o atraso extremo da consciência humana é uma contradição dialética. Em lugar nenhum esta contradição é tão clara quanto na mentalidade da ala direitista do grupelho neo-conservador republicano agora firmemente instalado na Casa Branca. Se pudéssemos abrir a cabeça George Bush e examinar as operações de seu cérebro, lá dentro veríamos todo o entulho, preconceitos e superstições do último milênio.

A mentalidade dessas damas e cavalheiros que se situam na direção do país mais poderoso e avançado do mundo não é fundamentalmente diferente da psicologia primitiva da Idade Média. Eles estão impregnados de religião, em sua mais crua e primitiva forma. Falam sobre o mundo em termos que facilmente poderiam ter sido usados pelos cruzados: "eixo do mal" e assim por diante. Revelam todas as peculiaridades psicológicas dos religiosos fanáticos a exemplo de Osama bin Laden e do Mullah Omar. A única diferença, conforme imediatamente protestarão, é que eles são bons, enquanto aqueles que sustentam pontos de vista contrários são maus - Bin Laden também pensa assim.

Os fanáticos religiosos são sempre potencialmente perigosos, especialmente quando têm armas em suas mãos. E George Bush tem mais armas que os demais. Acaba de matar um montão de gente no Iraque - homens, mulheres e crianças - numa guerra injusta e desnecessária. Nessas ações criminosas, ele recebeu entusiástico apoio de outro fanático religioso: Tony Blair, que recentemente anunciou estar preparado para "encontrar seu Criador" com a consciência limpa após a guerra do Iraque.

De forma semelhante, os cruzados medievais que patinhavam no sangue o faziam com a consciência pura, absolutamente convictos de que executavam o trabalho do Senhor. Moralmente, não há muita coisa a escolher entre os dois, exceto que os cruzados de antanho costumavam executar seu próprio trabalho sujo, enquanto Bush e Blair meramente ordenam que outros o façam.

A religião aqui serve de útil folha de figueira para encobrir os reais objetivos de guerra. Exatamente como o zelo religioso dos cruzados era a cobertura para outros e mais baixos motivos, os propósitos efetivos são mascarados por toda forma de "moral" hipócrita e até mesmo por considerações "humanitárias".

Não é verdade, segundo algumas pessoas têm argumentado, que a guerra ao Iraque seja um "conflito de culturas". Milhões de pessoas no Ocidente ativamente se opuseram à guerra, e ainda o fazem. São naturais aliados do povo iraquiano, não seus inimigos. Por outro lado, seria tolice acreditar que Bush e Blair invadiram o Iraque por causa de suas diferenças acerca de religião. Tinham outras coisas em mente!

Os cruzados foram para a Terra Santa com a cruz em seus estandartes. Mas eles logo se entregaram à tarefa de encher seus bolsos, pilhando cidades, tomando terras e lucrativas rotas comerciais. E nossos cruzados modernos foram para o Iraque vociferando acerca de liberdade, paz e democracia, mas fique-se certo de que prontamente lançaram suas mãos no petróleo. É necessário distinguir entre o irreal e o concreto!

Do ponto de vista moral, pouco há que escolher entre a barbárie da Idade Média e a de nossa própria época. A principal diferença é que o poder destrutivo dos exércitos modernos é infinitamente maior do que o da Idade Média.

É necessário lutar contra o barbarismo, por um mundo novo no qual a loucura e a superstição herdadas da Idade Média - e até de um passado mais remoto - seja para sempre relegado ao montão de lixo da história. O atraso das consciências será superado pela marcha dos acontecimentos - eventos tumultuosos que mexerão com a psicologia das massas e ocasionarão mudanças súbitas e drásticas. Velhas idéias, velhos preconceitos não sobreviverão. O caminho será preparado para uma nova maneira de pensar e agir, valiosa para os autênticos seres humanos.

Londres, 8 de maio de 2003.

Tradução de Odon Porto de Almeida