O verdadeiro perdedor nas eleições municipais britânicas: o Establishment

A máquina midiática do establishment está a toda marcha desde as eleições municipais da última quinta-feira, na Inglaterra, tentando retratar os resultados como mais um desastre para o Partido Trabalhista e seu líder, Jeremy Corbyn. Mas, depois de três anos vomitando bile, ninguém mais presta atenção a tais distorções e histeria.

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E, infelizmente para os blairistas, apesar de ficarem roucos de tanto gritar durante o mês passado, a posição de Corbyn parece mais forte do que nunca. Em todo caso, o comportamento da direita trabalhista nas últimas semanas só serviu para dar relevo à infestação blairista no Partido Trabalhista Parlamentar (PLP) que ainda precisa ser eliminada. Essa é a tarefa imediata que os militantes de base do Partido Trabalhista têm pela frente.

“Nenhum vencedor claro”

A BBC foi, mais uma vez, a serva fiel da brigada anti-Corbyn, estabelecendo a agenda quando chegaram os resultados das eleições municipais, ao alegar que não havia “nenhum vencedor claro”.

Tendo dado o tom, o resto da bolha de Westminster começou a tocar junto ao refrão agora tornado familiar.

A imprensa capitalista declarou que a Corbyn-mania havia terminado e, com ela, as chances atuais do líder trabalhista entrar no Número 10 [Downing Street 10, residência oficial do primeiro-ministro do Reino Unido – NDT]. Os cadáveres dos pontífices do Novo Trabalhismo foram reanimados para escrever o obituário de Corbyn. E seus acólitos modernos tomaram conta das ondas de rádio e Twitter para pedir sua cabeça espetada em uma vara.

Para infelicidade dessas respeitáveis damas e cavalheiros, os fatos são coisas muito teimosas. E, nesse caso, a evidência e os números não se encaixam em sua narrativa maravilhosamente costurada.

Qual é a realidade? O Partido Trabalhista obteve um ganho líquido de 77 assentos por todo o país, conquistando mais de 1.000 assentos a mais do que os Tories. Os Conservadores, enquanto isso, viram uma perda líquida de 33 assentos. E isso apesar de impulso decorrente do colapso do voto de UKIP, muito do qual (embora nem todos) foi absorvido pelos Tories.

Em Londres, o Partido Trabalhista registrou seus melhores resultados eleitorais municipais desde 1971. As câmaras de vereadores anteriormente (?) Tories na capital tomaram um susto, com os conservadores a apenas 141 votos de perder Wandsworth. Em outros locais, o Partido Trabalhista destronou os Tories em Trafford e recuperaram o controle de câmaras de vereadores como em Plymouth e Kirklees.

No geral, então, foi uma noite de êxitos para o Partido Trabalhista de Corbyn e uma noite de perdas para May e os Tories. Mas, por que deixar que os fatos se interponham no caminho de uma boa história?

Movimento de massa

Mas, mesmo isso subestima a imagem real. A verdade é que as eleições municipais não servem de prognóstico para uma eleição geral. Isso ficou claramente evidenciado no ano passado, quando um pobre desempenho do Partido Trabalhista nas eleições municipais de maio foi seguido, um mês mais tarde, pelo partido registrando seu maior êxito desde os dias de Clement Attlee.

Os comentaristas das torres de marfim da mídia mostraram repetidamente sua incapacidade para entender o que está acontecendo na sociedade britânica atual. Apesar de que se demonstre que estão equivocados a cada passo, eles se apegam teimosamente a sua visão de mundo rígida e de verdades inquestionáveis, espalhando as mesmas banalidades absurdas em todas as oportunidades.

Acima de tudo, mostraram que não entendem o movimento Corbyn e os fatores por trás dele. Ficaram perplexos, por exemplo, quando o Partido Trabalhista partiu de trás para negar aos Tories uma maioria na eleição de 2017. Agora, após anos declarando Corbyn como inelegível, deparam-se com a perspectiva provável de vê-lo ocupando Downing Street após a próxima eleição geral.

O que evidenciou a última eleição geral, acima de tudo, foi o impacto potencial das massas sobre os acontecimentos, quando mobilizadas, ao ter uma liderança arrojada e ao estar munida de um para-raios para concentrar suas energias.

Cidades e comunidades de todo o país estavam repletas de comícios, de reuniões de massa e discussões pessoais. A mídia social era uma blitzkrieg de positividade e excitação. Pela primeira vez que se lembre, centenas de milhares de pessoas gritaram simultaneamente o nome de um político… em um festival de música!

Os jovens foram atraídos aos milhões, inspirados pela possibilidade de mudança. Eleitores da classe trabalhadora, antes repugnados com a política tradicional, retornaram à urna eleitoral pela primeira vez em anos. A chamada “apatia” se transformou em atividade enérgica.

Em resumo, o que vimos na Grã-Bretanha no Verão passado foi um fenômeno social de massas. E foi esse movimento popular de massas que mudou fundamentalmente a paisagem política nesse país.

Esperar que tal entusiasmo seja gerado a partir de uma eleição municipal é perder o foco principal. A maioria dos eleitores entende de forma implícita que mudar o partido no poder municipal fará pouca diferença em suas vidas – particularmente quando estão sendo impostos cortes pelos Tories em Westminster (daí a participação baixa).

Em contraste, com a campanha eleitoral dirigida por Corbyn em 2017, trabalhadores e jovens viram a oportunidade de expulsar os Conservadores, dar um fim à austeridade e começar a mudar a sociedade para melhor. E quando uma eleição geral for a próxima carta – em 2020 ou antes – veremos ressurgir um movimento de massas similar. A condição principal é: necessitamos de uma campanha audaz, de um manifesto e de mensagens vindas do topo.

Em resposta aos céticos e críticos que estão declarando agora que chegamos “ao ponto mais alto de Corbyn”, respondemos parafraseando Mark Twain: os rumores sobre a morte de Corbyn foram muito exagerados.

Os blairistas perdedores

Os. Durante os últimos dois meses, eles estiveram travando uma campanha implacável contra Corbyn, com o líder trabalhista sendo acusado de tudo, de “fantoche do Kremlin” a “garoto propaganda” de antissemitas. Apesar disso, o Partido Trabalhista e Corbyn ainda estão no topo.

É verdade que os trabalhistas não conseguiram vencer em municípios como Westminster e Barnet, onde as campanhas dirigidas por Momentum esperavam derrubar os Conservadores. E, sem dúvida, a histeria anti-Corbyn anterior às eleições desempenhou um papel nisso. Mas passou em grande parte despercebida. Como se relatou sobre um eleitor judeu em Hackney, Londres, afirmando: “Não me importo se Corbyn é antissemita ou não – apenas quero alguém para fechar os buracos das ruas!”

De forma surpreendente, o deputado Chuka Umunna, arqui-blairista, teve inclusive a audácia de exigir que a liderança trabalhista iniciasse uma investigação oficial sobre as razões de o partido não ter obtido ganhos significativos nas recentes eleições municipais. Isso vindo de um homem que, de forma consistente, passou mais tempo sabotando seu próprio líder partidário do que atacando os Conservadores (através do corredor???)!

O problema para a direita do Partido Trabalhista é que os membros comuns do partido – e os eleitores em geral – já se cansaram de ouvir os grunhidos desses gângsteres. Eles podem ver através de todos os seus engodos e calúnias, percebendo corretamente que a campanha dirigida pelos blairistas sobre antissemitismo está apenas sendo cinicamente usada como mais uma vara para bater em Corbyn e seus seguidores.

Len McCluskey resumiu com precisão os pontos de vista da maioria dos membros do Partido Trabalhista, recentemente, ao escrever no New Statesmen. Atacando abertamente o “coro sombrio” dos parlamentares trabalhistas de direita pelo nome –John Woodcock, Wes Streeting e Chris Leslie – o secretário geral de Unite declarou que:

“Se olharmos para a lista de parlamentares que se rebelam constantemente vemos os mesmos nomes. Há, para dizer o mínimo, uma superposição marcante entre os que apoiaram Theresa May ao arriscar uma nova intervenção sangrenta no Oriente Médio e os que trabalham tempo integral para apresentar o Partido Trabalhista como um covil de misoginia, antissemitismo e intimidação…

“Vejo com desgosto o comportamento de parlamentares que se opõem a Corbyn, que juntam forças com os elementos mais reacionários do establishment midiático e entendo por que há uma crescente demanda pela reeleição obrigatória…

“Os críticos promíscuos devem esperar ser criticados e os que desejam responsabilizar Corbyn podem esperar ser responsabilizados eles próprios”.

Estamos 100% de acordo. Mas agora devemos transformar essas palavras e demandas em ação e organização.

Acontecimentos recentes mais uma vez chamaram a atenção para o câncer blairista que infecta o PLP. É tempo de removermos esse tumor que está matando de propósito o nosso movimento. Só então poderemos concentrar nossas energias na principal batalha pela frente: expulsar os Tories e acabar com o capitalismo.