Um milhão de mortes

Um milhão de vidas foram, oficialmente, reivindicadas pela pandemia de Covid-19. A escala desta tragédia é um resultado direto do capitalismo e de seus representantes. Eles têm mostrado um desprezo e uma insensibilidade pelos trabalhadores, jovens e os pobres; e suas tentativas ineptas de salvar o sistema têm somente criado o caos.


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Esta foi uma das pandemias mais mortais dos últimos 100 anos: facilmente ultrapassando o surto de Ebóla (11 mil mortos) e Gripe Suína (500 mil mortos) no ano de 2010, e quase no mesmo nível que o surto de Gripe Asiática nos anos 1950.

Com os países avançados enfrentando uma segunda onda – e a primeira ainda no pico em muitas partes do mundo – nós podemos esperar que a Covid-19 suba ainda mais nesta classificação sombria. O Institute for Health Metrics prevê que o número de mortes pode dobrar até o fim da pandemia, superando o grande surto de cólera na virada do século 20.

O “marco agonizanante” de um milhão de mortos (para citar o Secretário Geral da ONU António Guterres) nem é mesmo a história toda. Como o especialista nessas doenças, Prof. Alan Lopez da University of Melbourne explica, este quadro somente se aplica para as mortes “onde houve um teste e onde o atestado de óbito foi corretamente preenchido por um médico.”

Nas partes mais pobres do mundo, com grandes populações rurais e poucos hospitais, muitas mortes não estão sendo reportadas. Junte isto com o “escesso de mortalidade” das pessoas com condições crônicas, ou agravada pelo coronavírus ou tratamento negado devido ao sucateamento dos serviços saúde, e o resultado será “as mortes da COVID além do milhão que nós vemos.

E este não menciona a taxa aumentada de suicídios, que na Inglaterra e no país de Gales por exemplo atingiu um pico de duas décadas para os homens, dadas as pressões psicológicas adicionais do isolamento e da incerteza financeira.

Uma crise como nenhuma outra

O impacto total desta pandemia não conhece analogia mais próxima do que o da Peste Negra, que enviou o feudalismo para a beira do colapso. Similarmente, o a pandemia do coronavírus provocou uma crise social e econômica (desenvolvida através dos anos) que colocou o capitalismo de joelhos.

O FMI fala de “crise como nenhuma outra”, prevendo um declínio de 3% na economia global no fim do ano: a pior queda desde de os anos 1930. De fato, é a classe trabalhadora e os pobres que espera carregar nos ombros o fardo desta calamidade.

O desemprego nos EUA foi de 4%, antes da pandemia, para 10%. E milhões de trabalhadores nos países como o Reino Unido, França e Itália enfrentam o sucateamento conforme os governos se movem para acabar com as licenças e os esquemas de apoio ao emprego .

Enquanto isso, dezenas de milhares de negócios sobrevivem do pulmão de ferro dos empréstimos estatais nos países de capitalismo avançado estão prestes a explodirem, contribuindo para a espiral de desemprego, dívida e falta de moradia. É preciso considerar ainda a situação dos trabalhadores nos países pobres em que falta qualquer tipo de rede de segurança social.

A pobreza mata, contribuindo para um terço das mortes globais em tempos normais. E com a estimativa da ONU que 265 milhões de pessoas estão ameaçadas com a fome devido aos efeitos desta última crise, a pandemia irá reclamar mais de dez milhões de vítimas além das que sucumbem atualmente desta doença.

O vírus expôs brutalmente as linhas de classe na sociedade. Enquanto os ricos superam a pandemia na segurança de suas casas caras, a classe trabalhadora e os pobres frequentemente não tem o luxo de se auto-isolar ou trabalhar em casa. Os ricos desfrutam dos melhores serviços de saúde que o dinheiro pode comprar, enquanto os pobres são forçados a confiar nos serviços públicos de saúde onde estes existem, ou então gastam o dinheiro que eles não tem em contas de hospital.

A taxa de mortalidade pela Covid-19 é duas vezes mais alta em comunidades pobres, e junto com elas, as minorias étnicas oprimidas que são ainda mais impactadas. E nas partes mais pobres do mundo, o vírus está somente começando. Na Nigéria, por exemplo, a “capital da pobreza do mundo” com a terceira taxa mais alta de infeções na África, não há a perspectiva de auto isolamento ou lavar as mãos por 50% da população vive apertada, em favelas com mas condições sanitárias.

Enquanto isso, gente como Charles Robertson, economista chefe do Renaissance Capital, um banco de investimentos emergente, afirma que que os países pobres “terão que desistir do lockdown, eles não funcionam e não valem o sofrimento econômico”. Sejam os lockdowns efetivos ou não, imagina-se que Robertson está menos preocupado com o “sofrimento” das pessoas nos países pobres que com seus acionistas, cuja habilidade de sugar estes países será prejudicada se suas economias colapsarem totalmente.

Enquanto a classe trabalhadora e os pobres enfrentarem a infecção, desemprego e pobreza, os ricos não estão somente se mantendo, mas atualmente ficando mais ricos. Vinte mil trablahadores da Amazon testaram positivo para Covid-19, enquanto o CEO Jeff Bezos fez U$ 13 bilhões em um único dia, mais do que o PIB de 80 países.

Além do mais, enquanto a economia real despenca, os estoques dos mercados são tomados por uma orgia de especulação. No mesmo dia que a economia do Reino Unido contraiu 20,4% em agosto, a pior queda desde que os registros começaram, o FSTE saltou 2%.

Os parasitas da Elite podem desfrutar de seus espólios por enquanto, mas se o sistema está implodindo. E os seus lucros sem vergonha em meio a sofrimento incalculável irá armazenar um poço de ódio de classe que explodirá para superfície mais cedo do que tarde .

Um desastre após o outro

Os Estados Unidos, o Brasil e a Índia somam 450 mil fatalidades entre eles. O próprio presidente norte-americano Donald Trump recentemente foi internado com a doença. Ele emergiu hoje (6/10) do centro médico Walter Reed depois de três dias de tratamento, gabando-se que ele é “imune”, e dizendo otimista aos Americanos “não tenham medo do vírus”.

Nós voltaremos ao trabalho, estaremos na frente”, ele declarou, antes de prometer que a vacina estaria disponível “momentaneamente”.

De fato, Trump teve o melhor tratamento disponível, pago pelo Estado: diferente da classe trabalhadora norte-americana que compõe a maioria dos casos fatais. Ele está determinado a restaurar a normalidade econômica para que os lucros floresçam novamente, mas utilizar sua recuperação como prova de que o vírus não é perigoso somente encorajará a sua propagação.

Este episódio lamentável vem em meio a farsante eleição presidencial, na qual os trabalhadores e jovens se defrontam com a opção de dois males: mais quatro anos de Trump ou o fantoche da ordem, Joe Biden.

No Brasil, o presidente demagogo reacionário Jair Bolsonaro tem se recusado a levar o vírus a sério, apesar dele mesmo tê-lo contraído. Bolsonaro e Trump têm sido relutantes em decretar o lockdown e as medidas de distanciamento social, por causa dos efeitos nos grandes negócios, e o resultado foi a contaminação desenfreada em seus países.

O impacto tem sido sentido especialmente entre os moradores pobres das favelas e comunidades indígenas, estes últimos dos quais estão agora presos entre o vírus e uma nova onda de incêndios florestais, consequência da extração ilegal de madeira pelos barões da madeira apoiados pelo presidente.

Enquanto isso, na Índia, a Covid-19 já causou 100 mil mortes e a primeira onda nem mesmo atingiu o pico. Após um abrupto anúncio de lockdown em março que causou estragos na vida de milhões de imigrantes pobres, o primeiro-ministro Narendra Modi está colocando a culpa da disseminação do vírus no retorno dos muçulmanos aos encontros religiosos em massa.

Milhões de pessoas são forçadas a depender dos abutres exploradores do setor médico privado devido ao estado precário do serviço de saúde indiano, junto com a falta de leitos nos hospitais públicos.

Nestes países, através do mundo, o sistema capitalista está se afundando em uma crise e um caldeirão de raiva e ressentimento está sendo construído. O tremendo movimento Black Lives Matter, no qual 10 % da população tomou parte, que reverberou globalmente, é um prenúncio das batalhas que virão.

Mãos sujas de sangue

Enquanto todo este caos se desdobra, você poderia esperar um esforço coordenado de todos os melhores cientistas do mundo para derrotar esta doença. Ao invés disso, nós vemos uma corrida de ratos da companhias farmacêuticas privadas clamando por fazer uma vacina para o mercado, rasgando os regulamentos do Estado e requerimentos de testes ao longo do caminho.

Seu objetivo não é salvar vidas, mas segurar uma patente e acumular lucros, enquanto um pequeno número de países ricos comprará mais da metade do suprimento global das melhores vacinas.

Enquanto a Rússia e a China lançam drogas experimentais, dúvidas públicas compreensíveis sobre a rápida reviravolta estão contribuindo para um sentimento crescente de confusão e ceticismo sobre a natureza do vírus, a efetividade das vacinas potenciais e medidas de contenção oficiais.

Isto por sua vez, pode arrastar a pandemia e contribuir até mesmo para mais mortes se as pessoas se recusarem a ser vacinadas ou não manterem o distanciamento social apropriado. A culpa para esta situação, nascida da frustração e das mentiras é da classe capitalista e seus representantes que têm sido incapazes de responder à pandemia.

A pandemia é um desastre criado pelo capitalismo.

O vírus foi um produto das mudanças climáticas, pobreza e práticas de produção independente. Esta rápida disseminação foi o resultado da recusa dos governos de suspender a produção antes que fosse muito tarde. Os serviços médicos foram mal equipados para lidar com isto depois de anos seguidos de poucos investimentos. Não houve resposta global coordenada devido à competição entre os Estados nacionais. A segunda onda foi agravada pela corrida dos chefes para restaurar a atividade econômica e fazer os lucros crescerem novamente.

Sob a economia socialista planificada, todas estas armadilhas poderiam ter sido evitadas e o impacto do vírus minimizado. A humanidade está a mercê de uma catástrofe causada pelo capitalismo e esse sistema é incapaz de resolver.

O sangue de um milhão de pessoas escorre das mãos dos patrões. É imperativo que os trabalhadores e a juventude do mundo derrubem este sistema decrépito antes que cause ainda mais dano.

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