Venezuela: mais mercenários presos, incluindo dois veteranos das forças especiais dos EUA

Vários mercenários foram mortos e outros presos em La Guaira, em 3 de maio, enquanto tentavam desembarcar na Venezuela como parte de uma conspiração contra o governo Maduro. Em 4 de maio, outros oito mercenários foram presos na cidade costeira de Chuao, no estado de Aragua, entre eles dois ex-veteranos das forças especiais dos EUA.

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Como explicamos ontem, um dos organizadores da conspiração é o mercenário e ex-boina verde do exército dos EUA, Jordan Goudreau, que afirma ter assinado um contrato com o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó para organizar a incursão militar. Goudreau afirma que Guaidó renunciou ao contrato e que nunca foi pago, mas decidiu seguir em frente com o plano, de forma independente. Segundo Goudreau, que atualmente está na Flórida, onde administra a agência de mercenários Silvercorp US, os detidos ou mortos no domingo em Macuto, La Guaira, faziam parte de um grupo maior de 60 mercenários, principalmente desertores do exército venezuelano. Eles se infiltraram no país na tentativa de sequestrar Maduro e desencadear um golpe militar, no que ficou conhecido como Operação Gedeon – uma referência ao líder militar bíblico que liderou uma tropa de 300 homens para derrotar um exército Midianita muito maior.

Parte do grupo que foi interceptado em La Guaira no domingo conseguiu escapar, mas foram capturados em Chuao, Aragua, na segunda-feira, 4 de maio. Pescadores locais organizados na Milícia Bolivariana alertaram as autoridades sobre a presença dos homens em um barco e os oito mercenários foram capturados. Entre eles estavam dois veteranos das forças especiais dos EUA mencionados por Goudreau: Luke Denman e Airan Berry.

Um terceiro grupo de mercenários foi preso na praia isolada de Puerto Cruz, no estado de La Guaira, não muito longe de Chuao. Eles tinham um grande estoque de armas, coletes à prova de balas e equipamentos de comunicação, que haviam sido armazenados em terra para uso das as forças de desembarque.

Entre os presos em Chuao, está uma das principais figuras desta aventura militar: Antonio Sequea Torres, ex-capitão da Guarda Nacional Bolivariana, que desempenhou um papel fundamental no golpe militar de 30 de abril de 2019 liderado por Juan Guaidó e Leopoldo López. Ele apareceu em um vídeo publicado no domingo, descrevendo a si mesmo como responsável pela Operação Gedeon.

Falando à Bloomberg por telefone, Goudreau admitiu que sua operação sofreu perdas, mas que não havia terminado: “A principal missão era libertar a Venezuela, capturar Maduro, mas a missão em Caracas falhou“, disse ele. “A missão secundária é montar campos de insurgência contra Maduro. Eles já estão nos campos, estão recrutando e vamos começar a atacar alvos táticos”.

Nas próximas horas e dias, pode haver mais prisões relacionadas a essa incursão mercenária. Já existem algumas perguntas que precisam ser respondidas. Primeiro de tudo, qual é a implicação do governo colombiano? Esses mercenários foram treinados no território colombiano, como eles próprios admitem e de acordo com a investigação da Associated Press. Um esconderijo de armas foi apreendido pela polícia colombiana e o principal líder da operação, Alcalá Cordones, se entregou. Por que não prenderam ao restante dos desertores militares venezuelanos e não desmantelaram seus campos de treinamento?

Em segundo lugar, temos a implicação da oposição venezuelana em torno a Juan Guaidó. Goudreau mostrou uma cópia do contrato que afirma ter sido assinado entre sua empresa mercenária e Juan Guaidó, e forneceu gravações em áudio das discussões sobre o contrato. Os principais líderes desse ataque mercenário foram os mesmos oficiais que participaram do golpe militar de 30 de abril de 2019, liderado por Guaidó e seu colega líder da oposição, Leopoldo López. Goudreau organizou a segurança de Guaidó durante o concerto de “ajuda humanitária” na Colômbia em fevereiro de 2019. No domingo, Guaidó afirmou que todo o caso era uma “cortina de fumaça do regime”, uma operação de bandeira falsa para distrair a atenção sobre outros assuntos e justificar a repressão contra a oposição. Agora, a oposição emitiu uma declaração exigindo respeito pelos “direitos humanos dos membros da Operação Gedeon”. No entanto, Guaidó permaneceu calado sobre os detalhes do contrato que se alega ele ter assinado com a Silvercorp.

 

Uma conspiração imperialista

Em terceiro lugar está o nível de implicação do imperialismo dos EUA. É claro que nada se move nas diferentes facções da oposição venezuelana sem que Washington saiba. A chamada oposição “democrática” é financiada e promovida pelos EUA. No relatório da AP, publicado pouco antes do atual ataque mercenário, Goudreau é mostrado se gabando de ter contatos de alto nível no governo Trump, além de ter trabalhado na segurança de Trump. O relatório afirma que Goudreau “foi apresentado a Keith Schiller, guarda-costas de longa data do presidente Donald Trump, através de alguém que trabalhava em segurança privada” e acrescenta que, em maio de 2019, “Goudreau acompanhou Schiller a uma reunião em Miami com representantes de Guaidó. Houve uma animada discussão com Schiller sobre a necessidade de reforçar a segurança de Guaidó e sua crescente equipe de consultores na Venezuela e em todo o mundo, segundo uma pessoa familiarizada com a reunião”. Isso indica que Goudreau está envolvido e vinculado a Guaidó e ao governo Trump.

É claro que, se você lançar ataques contra o governo de um país soberano, ameaçá-lo de invasão militar, introduzir sanções brutais e um bloqueio de petróleo, apreender os bens desse país, convocar publicamente os oficiais militares a se levantarem contra o governo e oferecer US$ 15 milhões como recompensa pela captura do presidente daquele país, dificilmente você ficará surpreso se um grupo de desertores e mercenários militares decidirem resolver o assunto por conta própria.

Nas últimas 48 horas desde o lançamento da “Operação Gedeon”, nenhum funcionário dos EUA, geralmente rápidos em tuitar sobre a Venezuela, disse alguma coisa. Mike Pompeo, John Bolton, Marco Rubio, Elliot Abrams e o resto permaneceram em silêncio, depois de terem prometido que “o amanhã está chegando à Venezuela – mais uma vez”, dois dias antes. Eles não denunciaram o ataque mercenário, não se distanciaram oficialmente, não comentaram a prisão de veteranos das forças especiais dos EUA como parte do ataque e certamente não tomaram nenhuma medida contra Goudreau e sua agência mercenária Silvercorp US, que tem sua sede na Flórida.

Por fim, do ponto de vista do movimento revolucionário na Venezuela, a posição daqueles que há mais de um ano exigem a prisão de Guaidó e medidas revolucionárias para responder às conspirações contrarrevolucionárias, se justificou. Em uma declaração divulgada ontem por Lucha de Clases, a seção venezuelana da CMI levanta as seguintes e necessárias demandas:

“Fortalecimento da milícia bolivariana!

Armas e suprimentos para as milícias bolivarianas!

Criação de comitês de soldados dentro da FANB!

Prisão para Guaidó e todos os envolvidos! Chega de impunidade!

Expropriação dos monopólios imperialistas sob controle operário!

Por um governo operário!”