Davos 2023: a policrise do capitalismo causa medo na classe dominante

As elites globais se reuniram em Davos na semana passada para discutir o destino e o futuro do capitalismo. Com a economia mundial assolada pela inflação e pela instabilidade, prevaleceu um clima de pessimismo. Precisamos de uma revolução para tirá-los de seu estresse.

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Os grandes e os bons se reuniram na Suíça na semana passada para a última reunião do Fórum Econômico Mundial (WEF em suas siglas inglesas) – uma conferência (normalmente) anual que o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn descreveu com precisão como um “congresso de escoteiros de bilionários”.

O evento deste ano foi a primeira cúpula de Davos desde o início da pandemia. E muita coisa claramente mudou desde então.

A palavra “policrise” fornece um resumo justo das discussões no #WEF23 – usada por vários palestrantes durante os cinco dias para descrever a concatenação de perigos e ameaças que a economia global enfrenta atualmente.

“As crises econômicas, ambientais, sociais e geopolíticas estão convergindo e se fundindo”, declarou o fundador do WEF, Klaus Schwab, abrindo o simpósio deste ano das elites internacionais.

Essa mensagem desanimadora foi reiterada no relatório anual de riscos globais do WEF, publicado antes do último encontro de CEOs, banqueiros e políticos do establishment.

“O risco de recessão; a crescente dificuldade de endividamento; uma crise contínua do custo de vida; sociedades polarizadas habilitadas pela desinformação; um hiato na ação climática rápida; e guerra geoeconômica de soma zero…” – a lista continua.

Tudo isso, e muito mais, estava nas mentes dos delegados de Davos esta semana – um reflexo do profundo pessimismo que domina a classe dominante e das terríveis perspectivas para o capitalismo nos próximos meses.

Agarrando-se às palhas

Como o anfitrião de qualquer boa festa, Schwab estava determinado a não deixar que um pouco das intempéries estragasse o evento.

Tentando em vão levantar o ânimo, o chefe do WEF exortou os participantes a se libertarem de sua “mentalidade de crise”. O único problema é que havia poucas notícias positivas para seus convidados comentar.

Agarrando-se às palhas, Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, disse ao público que as perspectivas para a economia mundial melhoraram ligeiramente nas últimas semanas. Mas ela rapidamente voltou atrás, extinguindo qualquer esperança do surgimento de ‘brotos verdes’, acrescentando que “menos ruim ainda não significa bom”.

A chefe do FMI observou que a inflação global parecia estar caindo e que a saída da China de seu bloqueio de covid zero deveria dar um impulso ao crescimento econômico global. Mas em ambos os casos, Georgieva colocou uma nota de cautela.

Embora os aumentos de preços tenham diminuído ligeiramente, ela enfatizou que eles ainda estão subindo a uma taxa muito acima da meta de 2% dos bancos centrais. E a abordagem linha-dura adotada pelo Federal Reserve dos EUA, Banco Central Europeu (BCE) e outros – aumentar as taxas de juros na tentativa de conter a inflação – é quase certo que levará as economias de todos os lugares à recessão.

De fato, apenas algumas semanas atrás, a diretora do FMI estimou que um terço da economia mundial provavelmente sofreria uma desaceleração no próximo ano, com “três grandes economias – EUA, UE e China – todas desacelerando simultaneamente”.

“Mesmo os países que não estão em recessão”, continuou Georgieva, “se sentiriam em recessão envolvendo centenas de milhões de pessoas”. Uma imagem cor-de-rosa de fato!

Mas não é sequer o caso de cair da frigideira direto no fogo, observou a chefe do FMI, falando no painel na sessão de encerramento do #WEF23.

Com as pressões inflacionárias contínuas e com a guerra na Ucrânia e o colapso do comércio mundial – afirmou ela, é provável que acabemos com o pior dos dois mundos: queda econômica junto com preços crescentes.

O desemprego vai aumentar, declarou Georgieva. Mas a inflação não será necessariamente reprimida. “Uma crise do custo de vida e um emprego” já é um desastre para as pessoas comuns, disse ela. “Uma crise de custo de vida e nenhum emprego” é uma catástrofe.

A China salvará o capitalismo?

De forma similar, a chefe do FMI alertou que a reabertura da China pode ser uma faca de dois gumes para o resto do mundo.

Por um lado, disse ela, a demanda chinesa por matérias-primas provavelmente impulsionará o crescimento dos países que exportam essas commodities primárias.

Por outro lado, esse mesmo aumento da demanda – principalmente por fontes de energia – pode atuar para aumentar a inflação internacionalmente. Isso forçaria os bancos centrais a aumentar ainda mais as taxas de juros: aumentando os custos dos empréstimos para famílias, empresas e países endividados; e empurrando as economias (fora da China) ainda mais fundo na recessão.

Mesmo com essa ressalva, no entanto, as previsões dos economistas burgueses provavelmente se mostrarão excessivamente otimistas.

O regime em Pequim pode ter abandonado sua política de covid zero. Mas isso não significa que a economia chinesa voltará a crescer rapidamente.

A classe dominante tinha esperanças semelhantes em 2021, quando os bloqueios terminaram no Ocidente e os governos disseram aos cidadãos para aprender a “viver com o vírus”. Naquela época, comentaristas otimistas falavam sobre as perspectivas de uma nova década, prevendo uma forte recuperação depois do colapso decorrente da pandemia.

Em vez disso, no entanto, uma breve recuperação – alimentada pela demanda reprimida, financiamento do défict e impressão monetária – deu lugar a uma nova era de inflação, instabilidade e crise para o capitalismo. E a China deve seguir essa mesma trajetória, embora com um pequeno atraso.

Assim como no resto do mundo, o vírus e os bloqueios associados não são a única coisa que prejudicou a economia chinesa nos últimos anos. Subjacente ao caos do covid está a crise orgânica do capitalismo, que se expressa na China principalmente em termos da massiva bolha no mercado imobiliário.

O regime de Xi Jinping pode tentar impedir o estouro dessa bolha, mas apenas criando mais contradições e turbulências para o capitalismo chinês.

Aqueles que procuram a China para resgatar o resto da economia mundial – como fez ela, parcialmente, na sequência do crash de 2008, com seu programa de gastos keynesiano sem precedentes – ficarão, portanto, profundamente desapontados.

De fato, são precisamente as medidas intervencionistas e as políticas inflacionárias do estado chinês na última década e meia – e pelas classes dominantes em todos os lugares em resposta a toda e qualquer crise – que abriram o caminho para a bagunça em que o capitalismo e seus representantes se encontram hoje.

Como sempre, a arrogância burguesa logo se transformará em crise.

O fim da globalização

Ao longo dos procedimentos em Davos deste ano, um medo em particular se destacou: o aumento do protecionismo e a ruptura do mercado mundial.

Será que estamos vendo o fim da globalização? Essa era a pergunta na boca de todos. E, apesar das tentativas de vários palestrantes de acalmar os nervos, aqueles que prestaram atenção ao #WEF23 não ficarão tranquilos.

“É necessária uma ação coletiva concertada antes que os riscos cheguem a um ponto crítico”, instou o relatório pré-cúpula do WEF.

“Grande parte possibilidade de se aumentar o otimismo depende das pessoas nesta sala”, afirmou Kristalina Georgieva, do FMI, apelando para sua audiência de líderes empresariais e formuladores de políticas. “Seja pragmático, colabore, faça a coisa certa, mantenha a economia global integrada para o benefício de todos nós.”

Mas suas súplicas caíram em ouvidos surdos. De fato, parafraseando o famoso provérbio, não há ninguém mais surdo do que aqueles que não querem ouvir. E com a economia mundial caindo e os mercados encolhendo, os políticos burgueses não estão dispostos a cooperar uns com os outros. Em vez disso, é cada um por si, e o diabo vai pegar quem ficar por último.

Do Brexit ao programa “Made in America” de Biden, o nacionalismo econômico está sendo servido país após país, à medida que cada classe dominante implementa políticas de “empobrecer seu vizinho” em um esforço para exportar a crise.

E, à medida que as cadeias de suprimentos são reorganizadas, as indústrias são reestruturadas e as tarifas são impostas, os custos aumentam, alimentando ainda mais a inflação, com os trabalhadores pagando a conta.

Mais uma vez, vemos uma demonstração contundente de como o Estado-nação – ao lado da propriedade privada – se coloca como uma barreira fundamental no caminho do desenvolvimento das forças produtivas, já que o protecionismo ameaça transformar a iminente recessão mundial em uma depressão ainda mais sinistra.

Explosões revolucionárias

O verdadeiro rinoceronte na sala, porém, era a luta de classes.

Do Sri Lanka ao Peru; do Irã à China; da Grã-Bretanha à França, a classe trabalhadora está começando a se mover pelo mundo. E essas greves e movimentos são apenas o começo.

Os estrategistas do capital podem sentir a precariedade de seu sistema. Ao mesmo tempo, eles não têm soluções; não têm outra alternativa senão impor austeridade e ataques – exigindo que os trabalhadores paguem por esta crise.

Isso está provocando e preparando explosões revolucionárias em todos os países. Os bilionários, patrões e banqueiros de Davos, portanto, têm todos os motivos para estar apavorados.

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